poesia.net no rádio
Desde julho de 2006 edições do boletim poesia.net estão sendo
reproduzidas num programa de rádio em Feira de Santana, BA. O
programa, chamado Terça em Ponto, vai ao ar às terças-feiras, das 20
às 21 horas, na Rádio Sertão FM (106,3 MHz), uma emissora
comunitária. |
Radio Sertão,
Terça em ponto |
A produção do
Terça em Ponto é da responsabilidade de dois núcleos
da Universidade Estadual de Feira de Santana, ligados ao
Departamento de Ciências Exatas: NIS – Núcleo de Informática e
Sociedade e NEMOC – Núcleo de Educação Matemática Omar Catunda. O
poesia.net é apenas um dos quadros do programa. |
Número
40 |
Quarta-feira, 8 de outubro de
2003 |
Vera Lúcia de
Oliveira
Olá,
Se você entrar num site de busca, como o Google,
e procurar por "Vera Lúcia de Oliveira",
vai encontrar, talvez, mais endereços italianos que brasileiros. Não
é estranho. A poeta Vera Lúcia de Oliveira, nascida em Cândido Mota,
São Paulo, é professora de literatura na Itália, onde
reside.
Vera Lúcia incorporou o italiano. Seus versos nascem
ora na língua de Dante, ora em bom português brasileiro. Fiel aos
dois lados, ela depois traduz os versos para um ou outro idioma. Mas
a intimidade com o vernáculo adotado se tornou tão grande que Vera
Lúcia até já conquistou prêmios de poesia em italiano.
Neste
boletim, escolhi quatro poemas da autora. "Rua de Comércio" e
"Pedaços" foram extraídos do volume Geografie d'Ombra/
Geografias de Sombra (1989); "Andorinhas" vem do livro
Tempo de Doer/ Tempo di Soffrire (1998). O último texto, "A
Poesia Dói Dentro de Mim" integra a coletânea A Porta Range no
Fim do Corredor (1983), livro de estréia da poeta.
O que
parece caracterizar a poética de Vera Lúcia de Oliveira é essa aguda
observação dos estilhaços da vida: a hora que passa, as folhas que
caem numa lembrança de infância, o velho tanque de guerra integrado
pacificamente à paisagem italiana.
A poesia dessa paulista
não é de esbravejar, fazer caretas, falar alto. São palavras sutis
como o pássaro que pára para repousar. Ou como os sons dolorosos
derramados pelos ramos da árvore podada.
Além de poeta, Vera
Lúcia é ensaísta. Seu trabalho mais recente, publicado em italiano e
em português, é Poesia, Mito e História no Modernismo
Brasileiro (Editora da Unesp, 2001), no qual a autora faz uma
análise de três livros centrais do modernismo: Pau-Brasil
(1925), de Oswald de Andrade, Martim Cererê (1928), de
Cassiano Ricardo, e Cobra Norato (1931), de Raul
Bopp.
Para conhecer outros trabalhos de Vera Lúcia de
Oliveira, clique aqui para visitar
o site
da autora.
Veja ainda traduções para o italiano, assinadas por Vera
Lúcia, de dois poemas de Carlos Drummond de Andrade.
Um abraço, e
até a próxima.
Carlos
Machado
|
Estilhaços de
poesia |
Vera Lúcia de Oliveira |
|
RUA DE
COMÉRCIO
Sou
poeta da cidade magra da cidade que não caminha sou
dessa planicidade sou da violência das vidas poeta da
cidade que afunda casas e pessoas sou da puta da cidade
que só tem superfície
amanheço todo dia nua e estreita
como uma rua de comércio
PEDAÇOS
Estou estilhaçada silêncios
saem da boca mansos estava desenhando palavras
perdi o jeito de amanhecer
tenho tantos pedaços
que sou quase infinita
ANDORINHAS
Estou de bem com o mundo até um
tanque de guerra se cansa da guerra até um pássaro
pára para repousar
e depois o céu hoje é de um
azul que faz mal aos olhos agudo que a gente fica
ali barriga pro ar admirando as
andorinhas que volteiam matutando no que
pensam lá no alto no que sabem se sabem que estou de bem
com o mundo que volteiam lá em cima também para mim
A POESIA DÓI
DENTRO DE MIM
A
poesia dói dentro de mim como quando meu pai podava a
parreira eu ia vendo caírem as folhas eu ia vendo
caírem as folhas e ninguém sabia como os ramos derramavam
os sons dolorosos
|
poesia.net Carlos Machado,
2003
|
Vera Lúcia de
Oliveira • "Rua de Comércio" e
"Pedaços" In Geografie
d'Ombra/Geografias de Sombra Fonèma,
Veneza, 1989 • "Andorinhas" In Tempo de Doer / Tempo di Soffrire
Pellicani, Roma, 1998 • "A Poesia
Dói Dentro de Mim" In A Porta Range no Fim do
Corredor Scortecci, São Paulo,
1983 | |
|