Das coisas simples da vida, associadas à sua caminhada pessoal, e da memória dessas coisas a poetisa Vera Lúcia de Oliveira retira a matéria-prima – linguagem, musicalidade e imagens – da sua poesia.

Paulista radicada desde 1983 na Itália, hoje ela estará na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) para autografar mais um livro, a antologia poética Vou andando sem rumor (Gazeta, 126 páginas, R$ 25,00). O volume decorre da intervenção do também poeta José Eduardo Degrazia, de Porto Alegre, a quem coube fazer a seleção, a organização e a apresentação do conjunto.

É justamente Degrazia que, em texto de abertura, refere a amplitude do olhar de mundo de Vera, essa “menina interiorana” que ganhou ares universais e se comove com a riqueza e com as surpresas que a existência reserva. E que procura, com sua escrita inspirada, traduzir essa riqueza em versos. “A palavra salva, ou, pelo menos, manifesta nas coisas do cotidiano e do mundo a consciência humana, que observa, pensa e cria”, ressalta Degrazia. Ele percorreu a produção poética de Vera presente em sete livros, de Geografias de sombra, de 1989, a A poesia é um estado de transe, de 2010, para reunir os poemas da antologia.

Nascida em Cândido Mota e tendo crescido em Assis, no interior de São Paulo, Vera recupera desse seu período de infância e de adolescência muitas passagens e muitas imagens, do universo familiar ou de seu universo íntimo, que reverberam nos poemas. Com dicção peculiar, já uma marca pessoal, em ritmo que faz lembrar do fluxo de consciência mas ganha a forma do verso livre, em quebradas ousadas e que realçam a metáfora, constrói poemas irretocáveis, que se fixam à memória do leitor. Formada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 1983, e em Línguas e Literaturas Estrangeiras pela Universidade de Perugia, já na Itália, é doutora pela Universidade de Palermo e leciona Literatura Portuguesa e Brasileira justamente na Universidade de Perugia.