A PROPÓSITO DA "REPÚBLICA DAS BANANAS"

 

Vera Lúcia de Oliveira, 11/03/2016

 

Nasci e cresci no Brasil, filha de gente pobre, e nunca me envergonhei disso.

Meu pai me dizia: pobre não tem outra coisa além da dignidade. Pode perder tudo, mas não isso.

Minha mãe, para ajudar a pagar a casa que tinham comprado, era lavadeira. Eram trouxas e trouxas de roupas, entrando e saindo, todas as manhãs e tardes. Queriam, no entanto, que estudássemos, para ter uma vida melhor.

Estudamos, trabalhando oito horas por dia. Fiz todo o colegial e a faculdade como aluna do período noturno. E éramos os melhores alunos, modestamente o digo, pois a maior parte dos professores repetiam isso, éramos os que mais queriam, pretendiam e lutavam para saber mais, para entender melhor o país e o mundo.

Também ouvia as pessoas dizerem "república das bananas", quando se referiam ao Brasil, mas era sempre gente de cima, gente que parecia alienígena em seu próprio país, gente que frequentava um mundo de privilégios, onde se podia tudo, inclusive desprezar e humilhar quem não era daquele círculo exclusivo de poucos escolhidos.

Para os pobres, para a grande maioria da população, o Brasil era a pátria amada ingrata, mas amada. E que raiva eu tinha às vezes desse meu país, onde as melhores pessoas eram quase sempre as do mundo de baixo, que não tinham poder, que não eram respeitadas.

Pois bem, eu sonhei mudar isso, quis ser escritora para falar desse mundo de baixo e nos meus poemas o mundo é visto por essa ótica, por essa perspectiva.

Não é uma "república das bananas" o meu país, mas são patetas e patéticos os que querem que a gente se sinta estrangeiro no lugar onde nasceu e em que vive, são patetas e patéticos quem manda e desmanda, quem usa o poder que tem (que adquiriu estudando em universidades públicas, onde pobre até ontem não entrava), para garantir que essa "república das bananas" continue a existir, pois ela garante e justifica a sobrevivência deles.