Os
nossos escritores de hoje já não querem, e talvez não possam, traçar
um retrato global e orgânico, porque sabem que a realidade atual é
feita de tantos fragmentos, onde o eu se perde e perde o senso de direção
e de identidade. A própria idéia de “coletivo” e de “unitário”
parece ter sido suplantada por uma visão da sociedade segmentada, mais
condizente com a imagem e a estrutura atual das cidades brasileiras.
Seja
como for, narradores e personagens dessa ficção vivem frequentemente o
estranhamento de não saber mais se posicionar no mundo, de não saber
qual o próprio lugar. São seres precários, nômades, errantes,
defraudados de uma identidade cultural ligada ao mundo rural ou ao
universo das pequenas cidades do interior do país, identidade que não
serve e que não os ajuda a se adaptar ao universo dispersivo e
alienante das cidades, vistas, em muitos casos, não só como espaço
estranho, mas também inimigo.
O
livro, nas suas múltiplas abordagens, compõe um panorama multifacetado
e, ao mesmo tempo, rico e articulado, com o objetivo de melhor analisar
e compreender, através dos vários enfoques, algumas das transformações
que ocorrem na sociedade brasileira e que a literatura, o jornalismo, o
cinema, imbricando-se entre eles, tentam retratar da melhor forma
possível.
Vera
Lúcia de Oliveira (Maccherani)