Com
a análise de textos fundamentais da poesia modernista brasileira, a
autora mostra como se cumpriu a difícil tarefa de aliar as peculiaridades
e heranças de uma cultura com o tratamento de valores e questões
universais [estantevirtual].
S u m á r
i o
Agradecimentos
Apresentação
Retratos do
Brasil: a poesia modernista entre o mito e a história - Ivan Marques
Introdução
A nossa história é assim
1
As crônicas: pré-história da literatura
brasileira
2
A reabilitação romântica do índio
3
Modernismo: cosmopolitismo e nacionalismo
4
Oswald de Andrade:
história e anti-história, uma releitura crítica do passado
O enfant terrible e terno do
Modernismo
O projeto ético-social da Poesia
Pau-Brasil e as suas repercussões
A linguagem como agente revolucionário
Sob a superfície clara da poesia oswaldiana: interpretações das seções
de Pau-Brasil
História do Brasil;
Poemas da Colonização;
São Martinho; RP1;
Carnaval;
Secretário dos amantes; Postes da Light;
Roteiro de Minas;
Lóide Brasileiro
5
Cassiano Ricardo:o culto
dos heróis, entre história, mito e mistificação
Cassiano Ricardo, poeta da inquietação
Martim Cererê: a saga dos
bandeirantes
Na Terra Grande morava uma sereia chamada Uiara; Certo dia, chegou um Marinheiro;
A Uiara disse ao Marinheiro: «Traga-me a Noite»;
Foi então que nasceram os Gigantes; As pegadas dos gigantes no Brasil moderno;
Hoje o Tietê narra a história dos velhos Gigantes
Cassiano Ricardo, o historiador
6
Raul Bopp: no tempo sem tempo da gênese
Um Marco Polo do nosso tempo
Bopp-Norato encontra os modernistas
Mussangulá
Cobra
Norato: a gênese de uma obra
A estrutura e a linguagem de Cobra
Norato
O sentido do retorno às origens
Conclusão
Bibligrafia
consultada
Crônicas,
tratados e outros textos dos séculos XVI e XVII; Sobre as crônicas e o
período colonial; O indianismo romântico; O modernismo; Outros textos e
estudos críticos sobre o Modernismo; Outras obras consultadas.
Índice
onomástico
O
Modernismo, além de ter gerado uma revolução estética na literatura,
na música e nas artes plásticas, foi un momento único de intenso debate
sobre o conceito de identidade nacional. Nunca antes a poesia esteve tão
próxima do contexto histórico-social, ideológico e cultural, tendo como
um de seus principais objetivos mostrar as faces contraditórias e
diversificadas do país.
Formada em Letras pela Faculdade de
Ciência e Letras (FCL) da UNESP, Campus de Assis, a autora – que
atualmente reside na Itália e leciona Língua e Literaturas Portuguesa e
Brasileira na Universidade de Lecce – analisa três livros fundamentais
da poesia modernista brasileira.
Em Pau-Brasil (1925), de Oswald de Andrade, é
estudada a predominância da paródia e a corrosão da história oficial a
partir de textos dos cronistas dos séculos XVI e XVII. Essa pré-literatura
é revista pelo poeta para combater estereótipos, especialmente contra os
negros escravos e índios.
Ao ler Martim Cererê (1928), de Cassiano Ricardo, a
paráfrase ganha destaque. Estabelece-se assim uma linha de continuidade
com os poetas românticos. Occorre, porem, a substitução do “bom
selvagem” de José de Alencar pelo “bom bandeirante”, que reuniria
audácia, coragem e profunda aspiração à liberdade.
foto Claudio Maccherani,
2003
Em
Cobra Norato (1931), de Raul Bopp, é detectado um
retorno ao pré-tempo,ou
seja, ao mito. O autor, após uma série de viagens pelo país, em que
conhecera diversos costumes e tradições, traz a magia e o misticismo
para a sua literatura, buscando encontrar o Brasil primitivo anterior à lógica
e ao racionalismo científico.
Resultado de uma pesquisa inicíada para o doturado em Línguas e
Literaturas Iberícas e Ibero-americanas da Universidadade de Palermo,
este livro mostra como os autores escolhidos propuseram um relacionamento
crítico e consciente com o passado nacional, revindicando uma literatura
capaz de refletir as peculiaridades nacionais dentro de um âmbito artístico
de qualidade universal.
(Capa do livro)
Mário
Alex Rosa resenha "Poesia, mito e história no Modernismo brasileiro"
no jornal Estado de Minas
quinta-feira,
25 de fevereiro de 2016
Em
busca da identidade
Em
Poesia, mito e história do Modernismo brasileiro, de Vera Lúcia de
Oliveira, investiga como três poetas criaram uma estética propriamente
brasileira
Se
cada poeta criou para mais ou menos uma mitificação do Brasil, não foi
menor a qualidade criativa literária dos seus livros, o que confirma que
a poesia pode ir além da história sem necessariamente negá-la.
A
interpretação do Modernismo brasileiro, a Semana de Arte Moderna, os
manifestos e livros importantes como Pau-Brasil, Macunaíma, entre outros,
já foram e são estudados até hoje por diversos pesquisadores. No
entanto, o assunto parece inesgotável, o que, por um lado, confirma a
diversidade e a importância desse período (1920-1930) para a história não
só da literatura, mas da cultura brasileira de modo geral. Mas de outro,
talvez, devamos nos perguntar se há outras saídas para repensarmos a
ideia de Brasil, às vezes demasiado ufanista?
Não
podemos esquecer que o nosso país tinha saído recentemente de um sistema
escravocrata, de uma sociedade extremamente desigual, em que o Império
era o modelo e uma República duvidosa que foi até 1930. Somado ao
contexto internacional, o que esperar de uma literatura nova e que logo
despertou para travar um debate – o qual, diga-se de passagem, permanece
até hoje, entre local e universal, entre popular e erudito, folclore
brasileiro e cultura europeia, enfim, uma busca sem fim para reconhecer a
tão polêmica “identidade brasileira”.
Buscando
rever a história do Modernismo brasileiro, a professora Vera Lúcia de
Oliveira traz, no seu livro Poesia, mito e história no Modernismo
brasileiro, uma importante contribuição para um problema crucial na
formação da cultura brasileira: a identidade. A autora parte de três
escritores fundamentais (Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo e Raul Bopp),
ainda que os dois últimos, infelizmente, sejam menos valorizados pela crítica
literária. Para o entendimento da diversidade – não só do ponto de
vista estético, mas também do político –, a autora, antes de dedicar
um capítulo para cada poeta estudado, percorre de maneira sintética a
tradição que vem desde os primeiros cronistas, como, por exemplo, a
Carta de Pero Vaz de Caminha. Segundo a pesquisadora, “tanto os românticos
quanto os modernistas instauraram um diálogo intertextual com os
primeiros cronistas do período colonial”. O que de fato ocorreu,
criando assim “raízes dos dois movimentos que mais incidiram sobre o
processo caracterizador de uma identidade nacional”. Mas a questão é
até que ponto essa intertextualidade resultou numa identidade realmente
nacional. Esse problema, como se sabe, retorna com perspectivas diferentes,
seja pelos historiadores da literatura brasileira, seja pelos
historiadores e até mesmo sociólogos.
No
caso desse livro, e segundo as palavras da autora, o propósito foi expor
de forma resumida e panorâmica a primeira parte, que diz respeito às crônicas
dos viajantes, para depois, de maneira sincrônica, ocupar-se em
investigar como cada um desses três poetas, a partir das obras Pau-Brasil
(1925), Martim Cererê (1928) e Cobra Norato (1931), se posicionaram sobre
a identidade brasileira. Daí o recorte de mito e história, ou seja, se
no modernista mais radical predomina a paródia, o deboche da história
supostamente oficial; em Cobra Norato, Bopp procura resgatar as origens da
mata virgem, daí o mito; enquanto em Martim Cererê parece prevalecer,
ainda na leitura da pesquisadora, a apologia da história oficial, sem
esquecer uma certa mitologia da cultura brasileira, tão mitificada por um
José de Alencar, por exemplo. Evidentemente, essas questões são
discutidas em pormenores nos capítulos dedicados a cada escritor. Se cada
poeta criou para mais ou menos uma mitificação do Brasil, não foi menor
a qualidade criativa literária dos seus livros, o que confirma que a
poesia pode ir além da história sem necessariamente negá-la, ainda que
de maneira enviesada.
Por fim não deixa de ser oportuna essa nova edição, que tem entre
muitos méritos o ótimo capítulo dedicado aos estudos de Cobra Norato.
É louvável também destacar que o livro tem linguagem didática sem ser
simplória. Como se estivesse “narrando”, a autora, com brilho, faz
com que o leitor possa ler sem se preocupar que está diante de uma tese
acadêmica, o que não é pouco. Vale lembrar que faltam apenas seis anos
para novamente colocarmos em discussão a história, os mitos, os prós e
contras da nossa tão discutida independência, a identidade brasileira e
também o que de fato representou a Semana de Arte Moderna num país que
parecia estar apenas iniciando. Este livro é um ótimo começo.
* Escrito por Mário Alex Rosa: professor de literatura brasileira (Cefet-MG), poeta
e autor dos livros de poemas Ouro Preto (Scriptum, 2012) e Via férrea (CosacNaify,
2013).
"Em busca da identidade" (sobre
"Poesia Mito e História no Modernismo brasileiro"), Mario Alex
Rosa, Estado de Minas, 25/02/2016
Análise
da poesia modernista resgata cultura brasileira do início do século XX
Dec
15, 2015
Edição
revista e ampliada de “Poesia, mito e história no Modernismo brasileiro”
contextualiza questões históricas, sociológicas e literárias
brasileiras
“Tupi
or not tupi that is the question”. A célebre frase dita por Oswald de
Andrade no Manifesto Antropofágico, em 1928 sintetiza um período histórico
de extrema relevância para as artes e culturas no país: o Modernismo. É
sobre este tema que a ensaísta, professora e poeta Vera Lúcia Oliveira
retorna ao passado na segunda edição revista e ampliada de Poesia, mito
e história no Modernismo brasileiro, publicado pela Editora Unesp.
Fruto
de pesquisa iniciada no âmbito do doutorado em Línguas e Literaturas Ibéricas
e Ibero-Americanas da Universidade de Palermo, da Universidade Federico II
e do Instituto Universitário Oriental, ambos em Nápoles, Vera Lúcia
voltou-se à produção de Oswald de Andrade e dos poetas Cassiano Ricardo
e Raul Bopp, que escreveram respectivamente Martim Cererê (1928) e Cobra
Norato (1931). Ao analisar a poesia, carro-chefe da vanguarda na década
de 1920 e um dos suportes da produção literária moderna, a autora
demonstra que o Modernismo brasileiro, além de emancipar definitivamente
as letras e as artes, encontrou sua especificidade ao realizar uma ampla
investigação sociocultural, abordando classes marginalizadas.
Ao
mesmo tempo, a pesquisadora expõe os aspectos controversos do movimento
modernista. Se por um lado há o elogio à colonização e ao nacionalismo
pitoresco, de outro existe a imagem do “mau selvagem”, que resistiu à
escravidão e à catequese. De acordo com Vera Lúcia Oliveira, a existência
desses dois territórios opostos se associa para a criação dos elementos
que constituem a poética e a consciência crítica do Modernismo.
Em
um retorno ao passado, a autora faz uma contextualização de nossa história
literária, desde as crônicas de viajantes até chegar ao momento
revolucionário modernista. Desse modo, ao analisar a obra dos três
poetas, estrutura questões históricas, sociológicas e literárias.
Pluricom
Comunicação Integrada, São Paulo, 15/12/2015
Justamente
no ano em que se celebram os 80 anos do modernismo, marco da integração
definitiva do Brasil no universo da literatura e das artes plásticas de
vanguarda, a Editora UNESP, em co-edição com a Fundação da
Universidade Regional de Blumenau lança Poesia, mito e história no
modernismo brasileiro, de Vera Lúcia de Oliveira.
Formada em Letras pela Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da UNESP,
campus de Assis, lecionando Língua e Literatura Portuguesa e História da
Cultura Brasileira na Universidade de Lecce, sendo que o presente livro
tem suas origens justamente em pesquisa realizada para o doutorado em Línguas
e Literaturas Ibéricas e Ibero-Americanas da Universidade de Palermo, da
Universidade Federico II e do Instituto Universitário Oriental, ambos de
Nápoles.
O maior mérito da pesquisa é justamente mostrar como o modernismo se
voltou sobre a História nacional para construir uma imagem do Brasil.
Vera Lúcia analisa no livro três obras de vital importância no
modernismo nacional: Pau-brasil (1925), de Oswald de Andrade; Martim Cererê
(1928), de Cassiano Ricardo; e Cobra Norato (1931), de Raul Bopp.
O
retorno ao passado proposto pelas três obras é bem diferente. Enquanto
Oswald realiza uma paródia corrosiva da História oficial, Cassiano
concebe uma apologia daquilo que se ensinava nos livros e Raul concentra
suas atenções no tempo do mito, principalmente nas raízes amazônicas.
O curioso é verificar como os três escritores modernistas retomam os
cronistas do período colonial – Pero Vaz de Caminha, Gabriel Soares de
Souza, Américo Vespúcio e Jean de Léry, entre outros – de maneiras
bem distintas. Antecedidos pelos românticos, os autores dos anos 1920 e
1930 compõem uma ruptura com o passado, contestando a dependência
passiva em relação aos modelos europeus.
É evidente que os modernistas radicalizam essa proposta, num grande esforço
para emancipar as letras e as artes brasileiras. Nesse aspecto, o antropofágico
Oswald de Andrade, com seu desejo de deglutir a cultura estrangeira, é
modelar. Pau-brasil exemplifica muito bem isso ao fragmentar, decompor e
remontar nossa História sob novos ângulos de interpretação.
Cassiano Ricardo, por sua vez, é defensor da vertente modernistas
conhecida como Verde-amarelismo. Isso significa, em termos literários e
ideológicos, a exaltação de um nacionalismo pitoresco e eufórico, que
privilegia um determinado momento da colonização: o fenômeno das
bandeiras, que se irradiaram, do século XVI ao XVIII, em várias direções
da América do Sul.
Se a antropofagia escolhe o índio rebelde e refratário à escravidão
como símbolo do País, o verde-amarelismo adota uma visão neo-romântica
do bom selvagem, aquele que teria colaborado de modo pacífico com o
colonizador. As duas vertentes, opostas, acima de tudo, segundo Vera Lúcia,
contribuíram para revitalizar o panorama literário nacional.
A agradável surpresa do livro é a competente análise do trabalho de
Raul Bopp. Chamado de “Marco Pólo de nosso tempo”, o escritor teve
uma vida repleta de viagens e de aventuras. Isto pode ser verificado na
jornada a cavalo que fez, com 16 anos, atravessando durante oito meses
Mato Grosso, Argentina e Paraguai.
O curso de Direito foi feito cada ano numa universidade diferente (Porto
Alegre, Recife, Belém e Rio de Janeiro). Para financiar essas jornadas,
Bopp fazia de tudo, inclusive pintar paredes. Foi exatamente no período
que passou na Amazônia que, provavelmente, veio a força de Cobra Norato
– obra que retoma a riqueza e a universalidade do mito local da Cobra
Grande – em que o personagem central, o herói-narrador, apossa-se da
pele da cobra e sai “a correr o mundo”.
Vera Lúcia conclui que Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo e Raul Bopp
“representam contribuições indispensáveis ao debate sobre a definição
de uma identidade nacional, prioritário para um país de origem colonial,
como ficou evidenciado pela constância com a qual a literatura brasileira
retorna à questão”. Neste livro, ela mostra, por meio de ampla
pesquisa e perspicaz análise, como os três autores, com cargas maiores
ou menores de polêmica, deram contribuições definitivas para a busca de
uma maturidade nacional.
Oscar
D’Ambrosio, Jornal da UNESP, São Paulo, ano XVII,
n° 169, Agosto 2002, pag.13
A obra Poesia, mito e história
no Modernismo brasileiro, editado pela Unesp, é um saboroso
estudo didático, voltado não só para o público especialista, mas para
todos os curiosos e interessados nos primórdios da moderna poesia
brasileira
Jorge
Pieiro - Articulista do Vida & Arte
Símbolo modernista:
catálogo da Semana de
22
''Quem passa sua vida esculpindo estátuas, vê-se
censurado por esquecer os homens. Que dizer daquele que vê esculpir, e
fala daquele que esculpe!" (Gaetan Picon)
Há que se refletir sobre uma verdade:
há oitenta anos dos prenúncios da aurora modernista no Brasil, esta
passagem ainda se estabelece como uma das mais controversas da nossa
historiografia literária. A Semana de Arte Moderna, longe das luzes que
muitas vezes a distinguem de outros momentos mais ricos da literatura
brasileira, foi não mais que uma bizarra encenação de um grupo de
jovens intelectuais e artistas da elite, principalmente paulistana, do que
verdadeiramente uma ruptura estética com os padrões burgueses anteriores.
Na verdade, o que houve foi uma batalha entre altares - parnasianos e ''contrários'',
fato mais que evidente, dada a dinâmica incansável dos valores.
Foi evidente a manobra encabeçada,
anos após, por Tristão de Athayde - apesar de várias discordâncias com
os caminhos abertos pelo movimento -, para que o Modernismo no Brasil se
estabelecesse marco com a Semana, em 1922. Diga-se de passagem, que dessa
forma, a nova etapa da nossa literatura aprontou-se com atraso em relação
aos movimentos europeus, cuja última manifestação se deu em 1924, com o
Surrealismo.
O tema é polêmico. Argumentos
consistentes e contraditórios consideram tanto revolucionária e
vanguardista, quanto falsa e oportunista a nossa primeira fase modernista.
Possivelmente, no adro dessa igrejas, nunca será possível estabelecer
uma verdade absoluta, ante a fé ou a iconoclastia de cada partido de
seguidores.
No entanto, relevando as intenções
ou os descréditos dos primeiros momentos dessa revolução estética, é
conveniente considerar algumas apropriadas perspectivas, acentuadas por
alguns autores. Parece-nos que esta foi a consciência tomada, questionada
e respondida por Vera Lúcia de Oliveira, na obra Poesia, mito e
história no Modernismo brasileiro, editado pelo Editora Unesp, em
parceria com a Editora da Universidade Regional de Blumenau.
A obra resultou de
pesquisa em âmbito de Doutorado efetivado na Universidade de Palermo, na
Itália, país onde reside e leciona Língua e Literatura Portuguesa e
História da Cultura Brasileira (Universidade de Lecce). Apesar de gestado
no meio acadêmico, em que muitas vezes os estudos se revestem de um
hermetismo, restrito a iniciados, o texto de Vera Oliveira é um saboroso
estudo didático, voltado não só para o público especialista, mas para
todos aqueles curiosos e interessados nos meandros primordiais da moderna
poesia brasileira.
A autora dedica os três primeiros
capítulos à contextualização da nossa história literária, desde as
crônicas de viajantes, passando pela ''reabilitação romântica do índio'',
até desembocar no momento revolucionário do nosso Modernismo, visto como
reconstrutor de uma imagem daquele distante passado. É importante
ressaltar que Vera Oliveira, ao eleger o Modernismo como o auge do
processo de reabilitação crítica, investe, principalmente, na leitura
de alguns autores que recuperam, sob certo aspecto, os segmentos da
cultura marginalizada, contrariando a leitura ideológica das elites da época.
Daí, os estudos sobre a poesia
corrosiva de Pau-brasil (1925), do polêmico Oswald de
Andrade, que recupera ''entre tantos fragmentos do passado, uma série de
cenas da vida cotidiana dos escravos''; sobre a poesia inquieta, porém,
metódica, e apologista, em Martim Cererê (1928), de
Cassiano Ricardo; e sobre a poesia voltada para ''um tempo de gênese,
ainda não historiado'', em Cobra Norato (1931), de Raul
Bopp. Da união dessas três fontes de desejos, a autora reúne um arcabouço
de questões históricas, sociológicas e literárias que convencem o
leitor, conduzindo-o a uma sensação de perplexidade ante a sua chave de
leitura e interpretação.
O foco de pesquisa da
autora apaga o velho questionamento em torno do próprio Modernismo, para
resgatar o valor existencial de Mircea Eliade, ao afirmar que o ser humano
retorna ao passado ''para curar-se da obra do Tempo''. Além disso, a
consciência no encaminhamento da leitura de Vera Oliveira em torno dos três
autores estudados, é atestada pela importância e pelo ineditismo do
trabalho defendido.
O que se ressalta mesmo da obra está
manifesta na conclusão da autora, ao afirmar que essas três obras literárias,
e não a História, propiciaram a ''recuperação da memória''. Isso, de
certa forma, redime os pecados originais do Modernismo, com os quais tanto
o povo brasileiro se identifica.
Jorge Pieiro, escritor e
professor de literatura, 2002
A
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"Poesia, mito e história no Modernismo brasileiro"
Vera Lúcia de Oliveira, 2002
"Poesia, mito e storia nel Modernismo
brasiliano"
Vera Lúcia de Oliveira, 2000