A
poeta Vera Lúcia de Oliveira (Cândido Mota-SP, 1958) já é conhecida de
quem acompanha este boletim há algum tempo. Ela esteve aqui pela última
vez em outubro de 2015, na edição n. 341 do poesia.net, que punha
em destaque seus livros O Músculo Amargo do Mundo (Escrituras, 2014) e A
Poesia É um Estado de Transe (Portal, 2010). Agora, a autora retorna, graças
ao lançamento recente de sua coletânea Minha Língua Roça o Mundo (Patuá,
2018).
Nesse
novo trabalho, Vera Lúcia de Oliveira mantém traços essenciais de sua
poesia, sempre voltada para a vida de figuras brasileiras, especialmente
pessoas mais humildes, suas lutas, sofrimentos e pequenas alegrias.
Embora
já resida há décadas na Itália, a poeta não perde a referência das
gentes e lugares de seu país de origem. Seu livro Minha Língua Roça o
Mundo é uma coleção de poemas, quase sempre curtos, nos quais se traçam
retratos de gente brasileira sem nome e sem brilho.
•o•
Para este boletim, selecionei seis poemas do livro. Observo que, neste
volume, a autora não agrega títulos aos poemas. Procedo então da forma
que aqui já se tornou padrão nesses casos: uso como título o primeiro
verso do poema, entre colchetes.
O
primeiro poema de nossa miniantologia é “[No Beiral da Casa]”.
Trata-se de um momento lírico, que se destaca entre tantos outros de
amargura e até mesmo de tragédia. É o caso do próximo poema, “[Em
Dias de Vento e Frio]”.
Em
“[Memória é Medo]” e “[Estava na Cozinha]”, o leitor encontra
dois exemplos de solidão, desamparo e, ainda, desencontro familiar. Os
versos são curtos e ágeis, sem nenhum colorido ou efeito especial. Os
textos se apresentam com a mesma secura dos estilhaços de vida que
retratam.
•o•
No
poema seguinte, “[Quando Vi o Mar pela Primeira Vez]”, vem mais um
momento de lirismo e maravilhamento da pessoa, certamente alguém do
interior que tem a oportunidade de conhecer a imensidão do mar.
No
último texto, “[Retirou uma Planta Renitente]”, ocorre uma mudança
de narrador. Em todos os outros, a voz é de alguém que participa, ou
participou, da cena e fala em primeira pessoa. Agora, quem tem a palavra
é um espectador, que descreve a visita de uma mulher ao túmulo de pessoa
muito próxima: marido? filho?
•o•
Há
um aspecto interessante no livro de Vera Lúcia de Oliveira. Cada poema,
considerado isoladamente, não passa de um pedaço de vida, uma cena, uma
lembrança. Após a leitura, os estilhaços se juntam na cabeça do leitor
formando um amplo painel de pessoas deserdadas, desgarradas e sofridas que
teimosamente lutam para seguir em frente.