Poesia & Poesia
Poesia bilingue - italiano e portoghese brasiliano.
Vera Lúcia de Oliveira (Maccherani)
Home Su Libri di Poesia Critica Altri libri Antologie e Riviste Poesie in Internet Video Poesia Premi di Poesia Presentazioni libri Recital di poesia Vera e i "poeti" Interviste a Vera Interviste ai poeti Fili d'Aquilone Interventi Poesia del Mondo Culture in dialogo

 

su "A porta..."
su "Geografie..."
su "Pedaços..."
su "Tempo..."
su "La guarigione"
su "Uccelli..."
su "No coração..."
su "A chuva..."
su "Verrà l'anno"
su "Entre as..."
su "il denso..."
su "Radici, ..."
su "a poesia é..."
su "la carne..."
su "o musculo..."
su "Ditelo a mia..."
su "Minha lingua ..."
su "Ero in un ..."
su "Esses dias ..."
varie


Fonti del Clitunno, foto Claudio Maccherani, 1989

Note critiche sulla poesia
di Vera Lúcia de Oliveira (Maccherani)

Vera - foto Claudio Maccherani, 2000

"Canto da cidade" - D.Mercury

 

Testi critici sui libri di poesia di Vera:

"A porta range"

"Geografie d'ombra"

"Pedaços / Pezzi"

"Tempo de doer
Tempo di soffrire
"

"La guarigione"

"La guarigione"

"No coração da boca
Nel cuore della parola
"

"A chuva nos ruidos"

"Verrà l'anno" "entre as junturas dos ossos" "il denso delle cose" "a poesia é um estado 
de transe
"
"la carne quando è sola" "o musculo amargo 
do mundo
"
"Ditelo a mia madre" "Minha lingua roça o mundo"
"Ero in un caldo paese" "Ero in un caldo paese" "Esses dias partidos"   critiche varie

 

sull'opera poetica di Vera (in generale)

Testi critici sull'opera poetica di Vera di  Antônio Lázaro de Almeida Prado,  Rosa Correia, Carlos Machado, Matteo Fantuzzi, Paulo Rezende, Dóris Natia CavallariPierangela Di Lucchio, Cristian Sabǎu, Alberto Pucheu, Victor Oliveira Mateus, Eduardo Dall'Alba, Arlete Gendusa, Else Vieira, Alessio Brandolini, Everton Barbosa Correia, Laura Toppan, Roberto Brozzetti, Ambra Damiani, Margherita Orsino, Raffaele Taddeo, Flaviano Pisanelli e Laura Toppan

Antonio Lázaro de Almeida Prado

"O ritmo da brevidade..."

Caminhando, com a força de sua idade breve, para a eficácia da brevidade enunciativa, Vera Lúcia caminha, também, e ao tempo, para perto do "coração selvagem” da poesia.

Suas primeiras provas poéticas, moduladas sob a égide da contenção, podem suportar o incitante desafio rilkeano, vale dizer: ela só faz poesia por lhe ser absolutamente impossivel deixar de faze-la, E, com isso, pode até não atender ao sábio conselho de Mário de Andrade: "Devia ser proibido por lei indivíduo menor de idade, quero dizer, sem pelo menos 25 anos, publicar livro de versos. A poesia é um grande mal humano. Ela só tem direito de existir como fatalidade que é (...)”.

Eis que Vera Lúcia, com apreciável sagacidade, resiste bem a prova duríssima de, um pouco ao modo de Elio Vittorini, oferecer-nos um seu "diário em público".

0 módulo a que tendem os seus poemas aproxima-se muito da moldura eficaz dos "haicais".

E, embora nos confesse:"na poesia desmonto a frustração de não saber pintar", talvez não nos equivoquemos ao surpreender na maioria de seus poemas uma linha de sugestão pictórica, ou ate - e isso talvez lhes confira uma enorme graça - um hábil e leve traçado de desenho.

Leves resultam os poemas, de uma leveza grácil, e encantatória, que só um bailado rápido de imagens consegue obter.

Que isso, não nos iluda, porém. Pois esse grácil desenho é fruto de um hábil desempenho construtivo. Até porque essa capacidade de organizar os poemas e de lhes conferir "uma significação de alegria" é fruto de uma ultrapassagem das asperezas da dor, que nos poemas é muito intensa, e, no entanto, recalcada pelo pudor e pela ironia.

Quem disponha dos eliotianos "sentidos pensantes", vale dizer, quem tenha os sentidos despertos e prontos, haverá de detectar, no "fingimento" poético dos "verbos defec­tivos" de Vera Lúcia uma acerba nomenclatura da dura solidão , descontada em uma galeria de imagens e de metáforas zoologicas nos tantos cães, pássaros, grilos, teias de aranhas, disseminados e reiteradamente ocorrentes na "varredura" paradigmática de seus poemas.

Como em Giacomo Leopardi - e Vera Lúcia se inscreve, por "afinidade eletiva", no rol das almas leopardinas... - o verbo defectivo aponta sempre para a angústia do (...) "venir meno / ad ogni usata, amante compagnia".

Mas, também, como no poeta de Recanati, na poesia de Vera Lúcia, por graça fecunda de seu peculiar modo de dicção poética, a dor existencial se escande e atinge aquela algria conatural ao canto, seja dos pássaros, seja dos homens, como sugeriu a excelsa voz leopardina.

Pela força de alguns de seus brevíssimos poemas (embora isso pareça paradoxal) posso pressentir que Vera Lúcia chegará, mais adiante, a construir poemas quantitativamente mais longos, mas qualitativamente sempre breves, porque seletivamente funcionais. Por enquanto, suspeito que os poemas longos sempre representem, para Vera Lúcia, uma tentação... sem maior proveito...

Exigente e áspera é a via da poesia. Até porque toda poética, como o notou com argúcia José Guilherme Merquior, é sempre uma po-ética.

Vera Lúcia ingressa nessa ascese exigentissima e áspera. Mas, desde agora, sabe haver-se com as dantescas "parole di colore oscuro"...

"Tenere cose intrattabili e vive, ma fatte per l'uomo e non l'uomo per loro", assim definiu Cesare Pavese as palavras.

Como notará o leitor sensível, Vera Lucia, ao aceitar o corpo a corpo do embate com as palavras, sabe modelalas e dar-lhes um teor de "alegria breve" e cantante. É, até, uma substância de coralidade, que a ela e a nós nos enlaça na graça irônica de um canto breve e inocente...

Bem haja, pois, o Instituto de Estudos Vernáculos Antônio Soares Amora, na gestão do Dr. .Rafael Eugenio Hoyos - Andrade, quando se dispos a patrocinar a publicaçao destas primícias poéticas de Vera Lúcia.

Que os leitores saibam apreciar, com um saber feito de sabor, estas provas iniciais de Vera Lúcia, ingressando, conduzidos por suas mãos sensíveis, para perto do "coraço selvagem " da alegria...

 

(Antônio Lázaro de Almeida Prado, UNESP de Assis, 10 de abril de 1981)

Pois é...        (Para Vera Lúcia)

 

Porque a vida Se faz

Sem consonâncias

Sofremos.

 

Porque a morte Simula

Dissonâncias

Esperamos.

 

Porque o canto Entretece Sons e vozes

 

Ensaiamos.

 

E para conciliar

Vozes, espantos

Vida, morte...

(Secretas maravilhas,.. )

Poetamos.

 

(Antônio Lázaro de Almeida Prado, Assis, 4/XI/1980)

Rosa Correia

Vera Lúcia de Oliveira: 
uma poetisa de duas "geo-grafias"

a minha primeira cidade me deixou o nome no registro de nascimento

a segunda me tratou como um remédio de fígado

por isso a pátria é onde vou pendurar minhas tardes

abortar uma manhã de serra que

cortou aos poucos sonhos asas pernas

a pátria é onde descubro 

(poesia inedita)

A poesia dói dentro de mim

como quando meu pai podava a parreira

eu ia vendo caírem

as folhas

e ia vendo caírem

as folhas

e ninguém sabia

como os ramos derramavam sons

dolorosos

("A poesia dói dentro de mim" in "Geografie d'ombra")

Dividida entre duas pátrias, sufocada pela barreira linguística que lhe impedia a comunicação com os outros mas dominada pelo "bichinho álacre e sedento" da poesia, familiarizada desde sempre com grandes poetas de língua portuguesa como Carlos Drummond de Andrade, seu mestre, Fernando Pessoa, Murilo Mendes, entre outros, Vera Lúcia de Oliveira, brasileira vivendo em Itália, só podia aniquilar a torre de cristal que a aprisionava e transformar-se numa Boca Bilingüe, para que a voz da sua consciência fosse ouvida. Era como que um duelo de vida ou de morte entre o silêncio e a palavra. Venceu a palavra... Bem haja!

Como continuar fiel a mim própria, à minha língua, à realidade onde cresci, e ao mesmo tempo continuar a fazer poesia noutro contexto e para um outro interlocutor?

[...] Continuava a escrever e a trabalhar nos meus versos, mas era um trabalho muito solitário porque continuava a escrever apenas na minha língua. Era como se me fechasse numa torre de marfim.

[...] esta situação era conflituosa e extenuante.

(Declarações proferidas pela autora no momento da apresentação do livro "Geografie d'ombra", em 16/03/90, em Perugia)

Por isso a poesia lhe doía: ninguém sabia o tanto que Vera tinha para dizer porque ninguém podia entender a sua língua:

Estou estilhaçada

silêncios saem da boca

mansos

estava desenhando

palavras

perdi o jeito de amanhecer

tenho tantos pedaços

que sou quase infinita

("Pedaços" in "Geografie d'ombra")

       [...]

Testo completo:

      [...]

Nada escapa ao olhar lúcido de Vera e a sua escrita bilingue serve-lhe não só para denunciar, a todos, aos do lado de cá e aos do lado de lá, a injustiça, o medo, a náusea, a angústia mas também para cantar e louvar as forças imanentes da Vida em oposição ao mundo.

E para concluir aqui nos fica a sua Explicação desnecessária:

Não é triste o poema

não é triste o poeta

triste é o mundo

o mundo é que é triste

( S/Título in "A porta range no fim do corredor")

 

(Rosa Correia, Universidade de Vigo, Boca Bilingue n.8, 1993, Lisboa, pp.)
(Rosa Correia, Silenciada - Festa da palabra 10, Galicia, 1994, pp.121-124, versione gallega di Marga Rodriguez Marcuño)

Matteo Fantuzzi 

"Mettersi in gioco"

I pensieri come le figure si sommano nella poesia di Vera Lúcia de Oliveira, natali brasiliani ma da anni residente in Italia, una poesia che nella propria semplicità ci consegna un'architettura di emozioni e di sentimenti tutt'altro che scontati in una via che mi sento di avvicinare a quella di Vivian Lamarque, per intenderci meglio, anche se con le dovute e ovvie differenze.

È una poesia in sostanza dell'apparente irrealtà, che però dopo una prima lettura subito pone all'evidenza appunto il senso di quanto scritto. E non c'è forse metodo migliore per descrivere e cercare di comprendere la realtà che mischiare ad essa l'immaginario, il sogno, il fantastico: fotografie a testa in giù per far cadere dalle poltrone i morti e svegliarli in definitiva, riportarli in vita, reali nuovamente dopo il torpore.

Una poesia che affascina e talvolta stupisce, pronta a giocare e mettersi in gioco, come farebbe un fanciullino (disse qualcun altro).

 

(Matteo Fantuzzi, Le voci della luna, n.29 luglio 2004, p.26, Sasso Marconi, Bologna)

Alessio Brandolini

"La poesia di Vera Lúcia de Oliveira"

Vera Lúcia de Oliveira è nata in Brasile nel 1958, la madre è figlia di immigrati italiani. L'esordio poetico risale al 1983, lo stesso anno in cui vince una borsa di studio per l'Italia e si trasferisce a Perugia, dove tutt'ora vive, pur essendo ricercatrice di Letteratura Portoghese e Brasiliana presso la Facoltà di Lingue e Letterature Straniere dell'Università di Lecce. Scrive (e traduce) sia in portoghese che in italiano. Tra i tanti riconoscimenti è da segnalare almeno il Premio di Poesia dell'Accademia Brasiliana di Lettere e quello, più recente (giugno 2006), del Ministero dell'Educazione del Brasile con il libro inedito Entre as junturas dos ossos, che sarà pubblicato in 300.000 esemplari e distribuito in tutto il paese.

Verrà l'anno (Fara, Santarcangelo di Romagna 2005, pp. 79, Euro 8) è il suo ultimo lavoro poetico, scritto direttamente in italiano. È una specie di denso poemetto, dove i testi - come quelli della precedente raccolta - si susseguono senza titolo, né punteggiatura, né maiuscole (restano solo i punti interrogativi). Nel cuore della parola (2003, Adriatica - traduzione di Guia Boni) contiene un saggio di Luciana Stegagno Picchio in cui la studiosa sottolinea il forte legame della poesia di Vera Lúcia de Oliveira al senso dell'udito (la sua grande capacità d'ascoltare le voci del mondo), all'oralità e alla tradizione popolare. Per questo i suoi testi sono liberi d'ogni eccesso di retorica, d'enfasi, di ostentata metafisica per puntare dritto al cuore, all'essenza delle cose, e della vita. Una poesia quotidiana, quindi, eppure che, senza apparente sforzo, riesce a spingersi avanti, a diramarsi verso l'altrove, a coinvolgere l'elemento universale. Così la voce del singolo diventa una voce collettiva, che può essere di ciascuno di noi, o di tutti insieme, una voce corale:

la mia storia non la racconto ma se vuoi invento
ho storie dentro di me che nascono e restano
a rimuginare ho un sacco di storie tanto
più le racconto più diventano vere
c'è gente che piange e chiede dove le vado a prendere
rispondo che stanno dentro ognuno di noi

Poesia tratta da Nel cuore della parola, raccolta tra l'altro impreziosita da un commento del grande poeta brasiliano Lêdo Ivo che di questi versi apprezza il "lirismo coagulato" che supera le tradizionali misure metriche "per imporre, in un'apparente decostruzione, una realtà che ferisce e inquieta".

Il bilinguismo di Vera Lúcia de Oliveira, e potremmo anche aggiungere il "biculturalismo", si traduce in un ampliamento degli strumenti per comprendere il mondo, per penetrare i segreti della vita dell'uomo, della sua anima e - soprattutto - del suo dolore, in capacità di accogliere le voci che ci stanno intorno senza rinchiudersi nel proprio io. La lingua semplice e parlata, quella di tutti i giorni che evita ogni parola difficile o aulica, è il filo con il quale il poeta tesse il "discorso comune": la voce intensa e pacata che parla per ogni uomo, così com'era all'origine della poesia. Allora il trascorrere della vita e della storia si fa materia lirica, nutrimento di questi testi che talvolta sembrano racconti in miniatura:

il bosco è una casa di occhi
li vedevo nascosti e mi vedevo
a guardarli rompersi dai gusci
e venire fuori a salutare il giorno

Se la grande tradizione della poesia in lingua portoghese è ovviamente presente in quella di Vera Lúcia de Oliveira - si pensi a Carlos Drummond de Andrade, a Murilo Mendes, al citato Lêdo Ivo di cui qui da noi la de Oliveira ha curato una stupenda antologia, o allo stesso Pessoa, - in quel desiderio dell'autrice d'immedesimarsi in personaggi diversi, di riuscire dal di dentro a esprimerne la passione, il dolore, come non pensare all'Ungaretti che in pochi versi descrive tutto un mondo di passioni, alla sua misura, alla cura maniacale per ogni singola parola. Inoltre la lingua della poeta brasiliana (o brasilo-italiana?), il tono basso e insieme la tenacia nel resistere alla degradazione del linguaggio comune, così come le tante domande presenti in Verrà l'anno e il tono a volte volutamente infantile, ripetitivo, ingenuo, un po' sconnesso, fanno venire in mente il primo Palazzeschi (di "I cavalli bianchi" e "Lanterna") e i poeti dialettali italiani del Novecento, soprattutto Raffaello Baldini:

c'era un vento leggero
lo sentivo sul tetto
sfregarsi alle tegole
strusciarsi pare
avesse preso gusto
ad annusarle

Il rapporto con il Brasile lontano è fortissimo, e struggente. Per questo la parola "casa", è la più usata (sognavo una casa sulle spalle/ come una lumaca dicevo). Un alloggio sobrio e piccolo, perché bisogna essere sempre pronti a spostarsi, a fare e disfare le valigie, a portarsi dietro poche cose: quelle necessarie, indispensabili. Soprattutto il ricordo, e la presenza e l'amore degli altri. Normalmente la poesia si nutre di silenzio, qui è il contrario: la casa-poesia di Vera Lúcia de Oliveira è fitta di voci e rumori, e affollata di volti.

Verrà l'anno (che come inedito ha vinto il premio "Popoli in cammino") si compone di 59 brevi testi: è un piccolo libro che però contiene grandi cose. Dal taglio originale, per via di quel surrealismo dimesso, fatto di versi quasi sussurrati, privi di toni retorici e declamatori. Dalle poesie di questo poemetto che si proietta verso il futuro - eppure legatissimo al passato e alla memoria - emerge un mondo fiabesco e altamente lirico, legato alla purezza, al candore, alle portentose visioni dell'infanzia.

 

(Alessio Brandolini, Fili d'Aquilone n.3, luglio/settembre 2006)
w
ww.filidaquilone.it/num003brandolini3.html

Paulo Rezende

Conheci a poesia da Vera Lúcia de Oliveira graças ao Antonio Manoel, na sua coluna “Quase Desconhecidos”, aqui no Vitrine. Quando li os comentários dele sobre "Tempo de doer", pensei na hora, “quero mais”.

Passou-se um tempo, a Vera entrou em contato, queria o e-mail do Antonio Manoel, acabamos trocando mensagens e comecei a ler mais sobre mais esta paulista/italiana (preciso também ler mais dela). É interessante ver como ela lida com realidades tão diferentes quanto o interior de São Paulo, onde nasceu, e o primeiro mundo da Itália, onde teve que “renascer”.

Duas coisas me intrigaram muito, à medida que fui conhecendo melhor a Vera. Primeiro, a gentileza – genuína – na troca de mensagens. Segundo, a capacidade dela de juntar prêmios, lá e cá.

Aí, resolvemos fazer uma entrevista, para ver se juntava as coisas. E ficou tudo claro: a Vera sabe muito bem do que fala. E fala muito bem do que sabe.

 

(Paulo Rezende, Vitrine Literária, 27 de novembro de 2006)
http://www.vitrineliteraria.com.br/index.asp?Ir=noticias_exibir.asp&noticia=1049

Carlos Machado

"Estilhaços de poesia"

Se você entrar num site de busca, como o Google, e procurar por "Vera Lúcia de Oliveira", vai encontrar, talvez, mais endereços italianos que brasileiros. Não é estranho. A poeta Vera Lúcia de Oliveira, nascida em Cândido Mota, São Paulo, é professora de literatura na Itália, onde reside.

Vera Lúcia incorporou o italiano. Seus versos nascem ora na língua de Dante, ora em bom português brasileiro. Fiel aos dois lados, ela depois traduz os versos para um ou outro idioma. Mas a intimidade com o vernáculo adotado se tornou tão grande que Vera Lúcia até já conquistou prêmios de poesia em italiano.

Neste boletim, escolhi quatro poemas da autora. "Rua de Comércio" e "Pedaços" foram extraídos do volume Geografie d'Ombra/Geografias de Sombra (1989); "Andorinhas" vem do livro Tempo de Doer/Tempo di Soffrire (1998). O último texto, "A Poesia Dói Dentro de Mim" integra a coletânea A Porta Range no Fim do Corredor (1983), livro de estréia da poeta.

O que parece caracterizar a poética de Vera Lúcia de Oliveira é essa aguda observação dos estilhaços da vida: a hora que passa, as folhas que caem numa lembrança de infância, o velho tanque de guerra integrado pacificamente à paisagem italiana. 

A poesia dessa paulista não é de esbravejar, fazer caretas, falar alto. São palavras sutis como o pássaro que pára para repousar. Ou como os sons dolorosos derramados pelos ramos da árvore podada. 

Além de poeta, Vera Lúcia é ensaísta. Seu trabalho mais recente, publicado em italiano e em português, é Poesia, Mito e História no Modernismo Brasileiro (Editora da Unesp, 2001), no qual a autora faz uma análise de três livros centrais do modernismo: Pau-Brasil (1925), de Oswald de Andrade, Martim Cererê (1928), de Cassiano Ricardo, e Cobra Norato (1931), de Raul Bopp.

 

(Carlos Machado, Poesia.net n.40, 8 ottobre 2004, São Paulo
http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet040.htm)

"Pássaros convulsos"

Mais uma vez, este boletim retorna a um autor já publicado, revisitando o trabalho da poeta paulista-italiana Vera Lúcia de Oliveira. Depois de seu aparecimento no poesia.net n. 40, quatro anos atrás, Vera Lúcia já publicou três livros no Brasil: a antologia poética A Chuva nos Ruídos, de 2004; No Coração da Boca, de 2006; e Entre as Junturas dos Ossos, também de 2006. 

O primeiro desses livros recebeu o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras de 2005. O último, publicado pelo Ministério da Educação, foi um dos vencedores do concurso Literatura para Todos e circula numa edição tamanho-Brasil de 300 mil exemplares.

Dividida entre dois continentes, Vera Lúcia desde 1983 reside na Itália, onde leciona literatura portuguesa e brasileira na Università degli Studi di Lecce. Para não perder as raízes, Vera sempre escreve de forma bilíngüe, em português e em italiano. Se compõe num dos idiomas, sempre faz uma versão para o outro. 

O curioso disso é que ela se tornou uma poeta multipremiada, lá e cá. O volume No Coração da Boca, por exemplo, tem um gêmeo italiano, que é Nel Cuore della Parola. Outro livro de Vera Lúcia, Verrà l'Anno (Virá o Ano), este apenas na versão peninsular, recebeu dois prêmios na Itália: o Popoli in Cammino e o Prêmio Internacional de Poesia Pasolini.

Além de poeta e ensaísta, Vera Lúcia de Oliveira é também uma dedicada divulgadora de literatura em língua portuguesa. Ela já traduziu para o italiano textos de poetas brasileiros e também, em sentido inverso, textos de língua portuguesa para o italiano. No site Alguma Poesia, temos dois exemplos disso: poemas de Carlos Drummond de Andrade vertidos para o italiano e versos do poeta italiano Alessio Brandolini traduzidos para o português. 

A poesia de Vera Lúcia de Oliveira é um trabalho extremamente sensível que se mantém em fina e doída sintonia com as coisas do mundo. O tom é sempre discreto, avesso a fanfarras e sarabandas, num território onde se movem seres humanos, donos de vidas pequenas. Vidas de gente opaca e sem nome. Grande, mesmo, estrídula em sua empatia e abrangente no abraço, é compaixão que esses versos transpiram. 

Não há tragédias explícitas nos versos de Vera Lúcia de Oliveira. No entanto, a humanidade que neles se move é uma espécie triste, mesmo quando ri ou comemora. Aquela tristeza de pessoas que vão tocando a vida, mas parecem, lá no fundo, intuir que nas tramas do mundo não sobra muito espaço para elas.

O mais impressionante dessa lâmina de realidade — primeiro, brasileira; depois, humana — que atravessa cada poema da autora é notar que a maior parte de seu trabalho foi produzido longe do Brasil. 

Eu nunca havia me dado conta de como é recorrente a imagem do pássaro nos poemas de Vera Lúcia de Oliveira. Somente agora, ao reler três livros, lado a lado, percebi esse detalhe. Além de ela ter escrito um livro chamado Pássaros Convulsos (inédito em português, mas com alguns poemas incluídos na antologia A Chuva nos Ruídos), a referência às aves está presente em vários outros títulos. 

Somente na pequena amostra ao lado há quatro poemas com referências a pássaros. Não é por acaso. São aves humanas. É o desejo de voar. 

(Carlos Machado, Poesia.net n.235, 14 novembre 2007, São Paulo)
http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet235.htm

"O múscolo amargo do mundo"

Sempre que leio a produção mais recente de Vera Lúcia de Oliveira, poeta paulista radicada na Itália, lembro-me desses poemas de Bandeira. Não se trata de dizer que Bandeira influenciou Vera Lúcia. O ângulo é outro: creio que seja mais uma questão de olho pessoal. Vera Lúcia tem a sensibilidade de ver e transfundir em poesia essa realidade brasileira.

Quem sabe, as décadas de vida longe do Brasil a tenham auxiliado no ajustamento dessa mirada especial, nessa capacidade de enxergar o absurdo que, para a maioria de nós, possivelmente já se tornou “natural” e, portanto, “invisível”.

Vera Lúcia de Oliveira nasceu em Cândido Mota, SP. É professora universitária de literatura portuguesa e brasileira na Itália, onde reside há décadas e onde escreve ambidestramente em português e em italiano. Sua incorporação do idioma de Dante foi tão profunda que ela já conquistou diversos prêmios de poesia em italiano.

Não é a primeira vez que Vera Lúcia aparece nesta página. Ela já esteve aqui na edição n. 40, em outubro de 2003, e também no boletim n. 235, de novembro de 2007. Vera é também uma das colaboradoras do poesia.net. Uma de suas contribuições, por exemplo, foi o boletim n. 187, para o qual traduziu e apresentou o poeta italiano, nunca publicado no Brasil, Alessio Brandolini.

Lamentavelmente, nunca tive a oportunidade de conhecer, face a face, a maioria dos poetas atuais publicados no poesia.net. Não é o caso de Vera Lúcia de Oliveira, uma amiga preciosa que faz parte do legado deixado a mim e a outros amantes da poesia pelo saudoso companheiro Donizete Galvão (1955-2014).

Os poemas mostrados neste boletim foram extraídos de dois livros de Vera Lúcia de Oliveira: O Músculo Amargo do Mundo (Escrituras, 2014) e A Poesia é um Estado de Transe (Portal, 2010). Em ambas as coletâneas os poemas, embora sem perder a emoção lírica, tendem a encarar essa realidade brasileira que muitos certamente consideram indigna de poesia.

Um sinal inequívoco disso está na capa de O Músculo Amargo... (acima), que exibe a foto de um catador de material reciclável em São Paulo - homem que se desloca pelas ruas arrastando uma carroça de duas rodas carregada com latas, vidros, papelão.

Selecionei cinco poemas de O Músculo Amargo do Mundo. Nesse livro, os textos não têm título. Desse modo, recorro aqui a um expediente já conhecido de vocês: para facilitar a identificação, uso entre colchetes, à guisa de título, o verso inicial do poema.

O primeiro texto é “[Nem bem tinha adoecido]”. Trata-se de uma peça que tem de ser lida por inteiro. Não é possível isolar um trecho, uma frase ou alguns versos. Aí está a realidade, crua e vestida com a capa da desfaçatez. Alguém adoece, possivelmente vai morrer, e então os abutres dão em cima dos parcos recursos do infeliz.

Um detalhe: o poema é construído de tal forma que não se pode dizer se a pessoa lesada é homem ou mulher. Também não se sabe quem veio “limpar-lhe a casa” (aqui, o verbo limpar não carrega nenhuma higiene, nenhuma limpeza). Vieram — sujeitos indefinidos: parentes? amigos? conhecidos?

Outro texto do mesmo nível é “[Viu o fiapo da teia]”. Trata de um inseto apanhado numa teia de aranha. Embora alguém tente salvá-lo, o bicho “já estava dentro da morte / e não sabia”. Esse poema parece apontar não para a situação do inseto, mas para a vida precária dos seres humanos que se movem em O Músculo Amargo do Mundo.

Em “[Esse cão me segue]”, quem fala é alguém que, pelo contexto do livro, parece ser um morador de rua, alguém que tem o cachorro como companheiro. A rigor, bem mais que isso: “ele é meu irmão / ele é que é meu dono”. Em poucas palavras, a solidão e o abandono de um ser humano à margem da vida.

O mesmo abandono aparece em “[Sinal da cruz ajuda]”. Aqui, o sujeito que fala descreve, sem mágoa nem blasfêmia, as asperezas da vida. O que preside seu desabafo é um rombudo sentimento de desânimo, o estado de espírito de quem se vê mergulhado numa situação sem saída, da qual nem Deus é capaz de tirá-lo. Mas a impotência não é da divindade, e sim do próprio sujeito, que não se julga merecedor da atenção de um ser tão maiúsculo e distante.

O último texto de O Músculo Amargo do Mundo é “[Não se nasce onde se quer]”. Aqui, a pessoa que fala compara-se a uma formiga, seguindo uma fila indiana de seus semelhantes, programada para carregar um peso, cumprir sua tarefa — e só.

Os textos selecionados de A Poesia É Um Estado de Transe respiram a mesma atmosfera daqueles extraídos do outro livro. Contudo, as pessoas e animais aqui não parecem ter caído tanto. Sofrem um vazio, carências agudas e indefiníveis. Uma dessas carências é o que angustia a pessoa descrita em “A Fome”. Uma necessidade tratada como fome, mas que não é de alimento nem de água. Uma fome que “ele não saberia dizer”.

Semelhante sensação de vazio aparece em “O Osso”. Nesse poema não se pode dizer se o protagonista é realmente um cão ou este apenas representa um termo de comparação para uma pessoa. Como já vimos, os poemas de Vera Lúcia de Oliveira cultivam esse tipo de imprecisão que multiplica as possibilidades de leitura.

No poema “A Solidão”, a palavra “vazio” volta a aparecer numa tentativa de explicar aquele sentimento de falta, de incompletude. Em “O Pedido”, a carência retorna, agora explicitamente apresentada por um homem (pai? avô? irmão) a seus familiares.

Vem, por fim, “Sabia Falar”. Nesse caso, quem sabia falar — com a morte! — é possivelmente uma mulher, “a esposa do que não / tem morada”, “a dama das coisas / prenhes de mistério”. Enfim, alguém que num ambiente de carências indefiníveis encontra saídas no delírio ou no mistério.

Em O Músculo Amargo do Mundo e A Poesia é um Estado de Transe, Vera Lúcia de Oliveira nos apresenta uma poesia que mantém os pés firmes no chão. Não se trata de versos para provocar sorrisos ou para acalentar corações enamorados. São textos diretamente extraídos do lado mais sombrio do cotidiano, ou no dizer mais sonoro da autora - "o músculo amargo do mundo".

(Carlos Machado, Poesia.net n.341, 14 2015, São Paulo
http://www.algumapoesia.com.br/poesia3/poesianet341.htm)

"Estilhaços de vida"

A poeta Vera Lúcia de Oliveira (Cândido Mota-SP, 1958) já é conhecida de quem acompanha este boletim há algum tempo. Ela esteve aqui pela última vez em outubro de 2015, na edição n. 341 do poesia.​net, que punha em destaque seus livros O Músculo Amargo do Mundo (Escrituras, 2014) e A Poesia É um Estado de Transe (Portal, 2010). Agora, a autora retorna, graças ao lançamento recente de sua coletânea Minha Língua Roça o Mundo (Patuá, 2018).

Nesse novo trabalho, Vera Lúcia de Oliveira mantém traços essenciais de sua poesia, sempre voltada para a vida de figuras brasileiras, especialmente pessoas mais humildes, suas lutas, sofrimentos e pequenas alegrias.

Embora já resida há décadas na Itália, a poeta não perde a referência das gentes e lugares de seu país de origem. Seu livro Minha Língua Roça o Mundo é uma coleção de poemas, quase sempre curtos, nos quais se traçam retratos de gente brasileira sem nome e sem brilho.

Para este boletim, selecionei seis poemas do livro. Observo que, neste volume, a autora não agrega títulos aos poemas. Procedo então da forma que aqui já se tornou padrão nesses casos: uso como título o primeiro verso do poema, entre colchetes.

O primeiro poema de nossa miniantologia é “[No Beiral da Casa]”. Trata-se de um momento lírico, que se destaca entre tantos outros de amargura e até mesmo de tragédia. É o caso do próximo poema, “[Em Dias de Vento e Frio]”.

Em “[Memória é Medo]” e “[Estava na Cozinha]”, o leitor encontra dois exemplos de solidão, desamparo e, ainda, desencontro familiar. Os versos são curtos e ágeis, sem nenhum colorido ou efeito especial. Os textos se apresentam com a mesma secura dos estilhaços de vida que retratam.

No poema seguinte, “[Quando Vi o Mar pela Primeira Vez]”, vem mais um momento de lirismo e maravilhamento da pessoa, certamente alguém do interior que tem a oportunidade de conhecer a imensidão do mar.

No último texto, “[Retirou uma Planta Renitente]”, ocorre uma mudança de narrador. Em todos os outros, a voz é de alguém que participa, ou participou, da cena e fala em primeira pessoa. Agora, quem tem a palavra é um espectador, que descreve a visita de uma mulher ao túmulo de pessoa muito próxima: marido? filho?

Há um aspecto interessante no livro de Vera Lúcia de Oliveira. Cada poema, considerado isoladamente, não passa de um pedaço de vida, uma cena, uma lembrança. Após a leitura, os estilhaços se juntam na cabeça do leitor formando um amplo painel de pessoas deserdadas, desgarradas e sofridas que teimosamente lutam para seguir em frente.

(Carlos Machado, Poesia.net n.418, 13 marzo 2019, São Paulo
http://www.algumapoesia.com.br/poesia4/poesianet418.htm

Dóris Nátia Cavallari

"La poesia in due lingue
    di Vera Lúcia de Oliveira"

sono in tanti pezzi

da essere quasi infinita

                   Vera Lúcia de Oliveira

Nel corso dell’ultimo secolo tanti sono stati i viaggi, gli spostamenti, tante le possibilità di conoscere e scegliere nuovi posti per studiare, sognare, vivere. Un nuovo paese, una nuova cultura e lingua sono sfide che non tutti riescono ad affrontare, però alcuni lo fanno con coraggio, disposizione e arte. È il caso di Vera Lúcia de Oliveira, poetessa brasiliana che è partita per l’Italia nel 1983 con l’obiettivo di approfondire i suoi studi di lingua e letteratura italiana e poi si è trovata davanti ad una nuova possibilità di vita e di poesia; è diventata scrittrice bilingue, anche lei portavoce di quell’identità composita che oggi tanti scrittori "migranti" esprimono in italiano. Ma la poesia di Vera de Oliveira, in qualsiasi lingua, è soprattutto la testimonianza lirica del dramma umano, resa con grande varietà di ritmi e tonalità. 

[...]

Testo completo:

[...]

In Italia, vivendo in un paese diverso e praticando una lingua diversa, la scrittrice si è messa nella confluenza fra mondi che lei vorrebbe far dialogare, una testimone di un tempo nel quale l’uomo deve cercare la propria casa e la propria identità anche dentro sé stesso, perché nel movimento dispersivo del mondo globalizzato conservare la memoria e l’identità originale ci aiuta ad avvicinarci all’altro, a comprendere che il suo disagio e il suo dolore hanno radici comuni con i nostri disagi e i nostri dolori. La sua poesia ci aiuta in questo percorso, con ritmo armonico e una bellezza estetica che la farà sopravvivere al secolo: "dopo che era passato/ provava la spossatezza/ diceva cosa avrò mai fatto/ di così pesante sembra/ abbia attraversato il millennio/ anziché l’istante".

 

(Dóris Nátia Cavallari, Crocevia n. 9/10, Besa Editrice, Nardò, LE, 2008)

Pierangela Di Lucchio

"Scrivere tra due lingue: Lingua Italiana e Traduzione in Christiana de Caldas Brito e Vera Lúcia de Oliveira"

Pierangela Di Lucchio

Texto completo:

 (Revista de Italianística XVI 2008, USP, São Paulo
http://www.revistas.usp.br/italianistica/article/view/88339)

Cristian Sabǎu

"O punte culturalǎ peste Atlantic. Vera Lúcia de Oliveira"

 

articolo di Cristian Sabǎu con poesie di Vera Lúcia de Oliveira (tratte da "A chuva nos ruidos", "Verrà l'anno", "Pedaços/Pezzi", "Entre as junturas dos ossos") tradotte in RUMENO da Cristian Sabǎu

 

ARTICOLO ® 

 

(Cristian Sabǎu 20 giugno 2008, Romania)

 

"7 poete pentru Ziua Internationalǎ a Femeii - 8 martie 2012

 

articolo di Cristian Sabǎu con poesie di 7 poete migranti, tra le quali Vera Lúcia de Oliveira,  tradotte in RUMENO da Cristian Sabǎu

 

ARTICOLO ® 

 

(Cristian Sabǎu 8 marzo 2012, Romania)

 

"O secventǎ din «poezia migratei» Vera Lúcia de Oliveira"

 

articolo di Cristian Sabǎu con poesie di Vera Lúcia de Oliveira, tradotte in RUMENO da Cristian Sabǎu, in occasione della presentazione dell'opera poetica di Vera all'Università di Cluj Napoca il 29 maggio 2012 (nell'ambito della Letteratura italiana contemporanea)

 

ARTICOLO ® 

 

(Cristian Sabǎu 29 maggio 2012, Romania)

Alberto Pucheu

Querida Vera Lúcia,

em primeiro lugar, gostaria de dizer que gostei muito de nosso encontro e de sua leitura. Ontem, acordei às quatro horas da manhã, pois meu voo estava marcado para às seis e meia, em Ribeirão Preto, e o táxi chegaria às quatro e meia. Pois bem, chegando ao aeroporto, descobri que o voo ia atrasar quatro horas. Aproveitei, então, para ler o seu livro Il denso delle cose. Como havia previsto, achei que, como você lendo, há uma mistura de grande intensidade e de grande delicadeza. Talvez, sua poesia seja uma da delicadeza da intensidade ou da intensidade da delicadeza. Impressionou-me a presença constante da dor e da morte como duas de suas obsessões, sempre trabalhadas de modo a indicar algo que se coloca e que assinala para uma ausência. Acopladas a elas, o grito e o sussurro. Talvez a sua escrita e mesmo a sua leitura ao vivo sejam o sussurro de um grito. Assim, o poema se torna a presença de uma presença e ao mesmo tempo a presentificação de uma ausência. Há uma necessidade de aniquilamento nos poemas. Acho que seus versos curtos, breves, compõem com precisão a ambiência de sua poética, como gosto igualmente dos momentos, não muitos, mas sempre fortes, em que os versos longos se precipitam, impondo-se na quebra do ritmo rápido. Gosto muito de poemas como "Rua de comércio", pela temática que tanto me interessa. Gosto muito do contraste harmônico entre o peso do material acoplado ao incorporal ("não passem rolo compressor/ nas palavras da alma", só para dar um único exemplo entre vários possíveis, ou “a alma violentada” que “racha nos muros/ as palavras”). Gosto muito, claro do "A história", pelo jeito, um de seus clássicos, e muito quando, no fim, o grito da múmia se transforma no seu próprio grito, o grito daquela boca no de sua boca. Gosto também dos temas amorosos, ou das passagens que falam do amor, que me fizeram lembrar o Lacan de amar é dar ao outro o que não se tem e que o amor é uma forma de suicídio ou o Wilde da Balada em que diz que teimamos em matar quem amamos ou a coisa que amamos. Enfim, Vera, só para dizer que gostei de escutar e ler seus poemas.

 

(Alberto Pucheu, comunicazione personale, Rio de Janeiro, 22 agosto 2009)

Victor Oliveira Mateus  
(a dispersa palavra)

"Acerca da Poesia de Vera Lúcia de Oliveira"

O primeiro tópico que me ocorreu quando pensei falar da poesia de Vera Lúcia de Oliveira, prende-se com o modo límpido como esta autora se relaciona com a Linguagem, um modo desprovido de quaisquer prestidigitações estilísticas ou efeitos que poderiam correr o risco de empobrecer os seus poemas. Contudo, a autora conhece bem o terreno onde se move... Muitos de nós lemos, em tempos, uma célebre obra do Prof. Cerqueira Gonçalves, onde ele, traçando identificações entre os textos literário e filosófico, dizia que um dos motivos dessas aproximações se ficava a dever ao facto de ambos usarem a Linguagem natural. Não pretendendo ir por aí agora, gostaria apenas de dizer que a poesia, no seu discorrer, não é, nunca foi, nem conseguirá ser, até pelo facto de não poder recorrer à eficácia das Linguagens artificiais e dos procedimentos lógicos, um discurso que apreenda rigorosamente as múltiplas vertentes da experiência humana, quer quanto à sua totalidade quer naquilo que elas são em si mesmas. Aliás, e relacionado com isto, poder-se-á até fazer, ao nível de uma sabedoria espontânea, a seguinte experiência: se eu disser branco - e partindo de hipótese que o receptor não tem qualquer lesão na área cerebral que irá receber este estímulo auditivo nem na área secundária que o irá interpretar e coordenar -, no cérebro desse mesmo receptor formar-se-á a representação, não do azul nem do vermelho, mas do branco, o problema colocar-se-á ao nível da gradação das coincidências, do mesmo modo se entrarmos numa loja para comprar tinta branca imediatamente o empregado nos mostrará um catálogo com uma ou duas dezenas de brancos.

 

[...]

Testo:

[...]

 

É este, na minha leitura, o transe de que nos fala Vera Lúcia de Oliveira na sua elaborada e paciente tapeçaria poética: não uma subida para se juntar, num outro plano, à divindade, mas um vivenciar, no aqui, tudo aquilo que, nas coisas e nos seres, é extra-ordinário e divino, pois não nos enganemos, o mistério de que ela nos fala, e como escreve no poema com o mesmo nome, não carrega vozes, ele está antes na aragem, na cozinha, nas panelas limpas/ nas tampas penduradas nas hastes/ na goteira incessante da pia. Dito de outro modo: o mistério está por todo o lado e resulta desse contacto directo com o divino destas mesmas coisas e destes mesmos seres, através dessa apreensão, que, como a poeta também nos diz, dá-nos a proporção correcta. Para finalizar, regresso ao ensaio de Antonio Brasileiro, volto de novo à questão da Linguagem e do fazer poético. Refere este autor, após algumas citações de Valéry, que a poesia é resistência, resistência e sobrevivência, e que "numa época de simplificação da linguagem, e de insensibilidade em relação às formas, há que pensar mesmo na poesia como uma coisa preservada", ou, posso eu acrescentar, como coisa a preservar. É isto exactamente o que faz Vera Lúcia de Oliveira: numa Linguagem, que, optando pela clareza, mas nada tendo de simplificação, como acabámos de ver, resgata o divino que existe em tudo aquilo que Há -para usar aqui um termo tão caro à mundividência llansolinana -; nos mais banais, e muitas vezes sofridos, gestos do quotidiano, a poeta recupera (e preserva) o que neles é essencial, e com eles consegue esse transe que é motor e matéria prima da sua poesia.

 

(Victor Oliveira Mateus, A dispersa palavra, Lisboa, 20/05/2011
http://adispersapalavra.blogspot.com/2011/05/acerca-da-poesia-de-vera-lucia-de.html

Eduardo Dall'Alba

"A poesia do interdito"

 

Não raro a poesia maior emerge de uma voz distante no mapa, mas de força incontida, com o tema da morte, como em Clarice Lispector fez na prosa. A poesia da brasileira Vera Lúcia de Oliveira é lacerada pela dor, e, no entanto, capaz de se erguer como um denso corolário onde se enfeixam várias fomes. Toda é grito mudo. O grito, no entanto vem colmado de uma escrita que avança algumas questões postas pelo cânone das poesia ocidental, adentrando num universo variado pelas mesmas 20 palavras, na exatidão de seus poemas. Nenhuma palavra sobra.

Se a temática é das difíceis: a morte, a dor, a perda, a laceração posterior a isso, a densidade do discurso não deixa espaço para a dúvida. Uma grande poeta se faz pela economia verbal e na exatidão do vocabulário que utiliza, fazendo surgir a alta poesia, seca, no limite extremo do sentido. Não é poesia de fluir por entre a banalidade e/ou a superfície das coisas e das pessoas, mas antes, do corte, da laceração mesma, do sentido primeiro das palavras, pretensão que logra efeito imediato na leitura dos poemas.

A distância entre as gerações, as falas e os gestos pretendidos, tudo se abarca no poema. Desse modo o primeiro poema são todos os poemas, e qualquer deles, remete ao anterior e ao posterior, porque o que fala ali é a dor e a leitura crua do mundo, em densidade exata, na palavra justa, onde não sobram migalhas de discurso retórico, como acontece em grande parte da literatura atual mundial, sobre o tema da morte.

 

[...]

Testo:

[...]

 

Toda - a vasta - poesia de Vera Lúcia de Oliveira é atravessada pelo calor do grito e pela dor, perfazendo os círculos internos das relações para chegar à possibilidade do entendimento da alma humana; criando uma alteridade que ganha força á medida em que avançam os poemas em que se encontra a vertente da identificação direta pela fala da poeta. A identificação só é possível porque a poeta tem uma visão definida do mundo, fazendo com que a sua poesia passe ao largo da produção contemporânea e se distinga pela força dos versos que realiza. Não há gratuidade na poesia. É densa e carregada do sentido mais primevo da verdade, entrecortada pelo ritmo que impregna os poemas de uma condensação do resultado, o poema. Poesia que fica e que incomoda o leitor.

Os poemas de Vera Lúcia de Oliveira aproximam o leitor da catarse grega do teatro. E mais não fosse, a poeta revela, pela linguagem, o interdito da cultura familiar, daquilo que durante vários anos não se pode falar. Em poema, a dor transcende e a catarse é realizada com poder de libertação do jugo e se estabelece um vínculo experiencial, entre a autora e o leitor. Já não como leitura apenas de fruição, mas como identificação das matrizes de um tempo que, conquanto próximo, já não existe mais. Para isso serve o poema. Para dizer do que somos feitos e para afirmar que a literatura, sobretudo a poesia, é a que condensa o maior grau de leitura da alma da humanidade, pois ela é a maior das Artes.

 

Eduardo Dall'Alba, 
"A poesia do interdito"

(Revista de Italianística XXV 2013, USP, São Paulo
http://www.revistas.usp.br/italianistica/article/view/116074/113728)

(Vozes da poesia contemporânea - Vera Lúcia de Oliveira,
in "Simetria e horizonte", Espaço Engenho e arte, Porto Alegre, 2012, pp.39-43)

Arlete Gendusa

Alguém que sabia o que dizia e falava com muita propriedade, disse um dia que um verdadeiro Poeta só nasce de cem em cem anos. Para mim, a poeta Vera Lucia de Oliveira é um destes poetas verdadeiros. Ela foi indicada na categoria Prêmio de Literatura para o Brazilian International Press Awards, um prêmio para os brasileiros que vivem e trabalham fora do País e que se sobressaem nos diversos âmbitos da cultura. Este prêmio funciona na base da votação popular, portanto sugiro à todos os amigos que votem na Vera. Escrever poesia é um ato de coragem, escrevê-la muito bem é puro talento e sensibilidade. Vera, neste sentido, é a mais completa tradução do que está a significar a expressão "Poeta de Verdade".

 

(Arlete Gendusa, comunicazione personale, 2 giugno 2012)

Else Vieira

Queen Mary University of London

Poetas à deriva / Poets adrift

primeira antologia da poesia da diaspora brasileira

first anthology of the poetry of the brazilian diaspora

A cura di Else R.P.Vieira, Mazza Edições, Belo Horizonte, 2013

 

"A propósito da poesia pioneira de Vera Lúcia de Oliveira" (pp.35-128)

Escritores da diáspora brasileira

Ações editoriais e processos de alteridade

Organização e introdução por Else R.P.Vieira

Mazza Ediçôes, Belo Horizonte - MG/Brasil, agosto 2015

"Vera Lúcia de Oliveira e a questão das fronteiras" (pp.73-84)

Everton Barbosa Correia

"Modernidade tardia e contemporaneidade
 em três poetas paulistas"

(...) Resumo: "A pretexto de colaborar para conferir maior precisão à formulação conceitual da poesia brasileira contemporânea, certa reflexão é aqui ensaiada em torno do conceito de modernidade e seus desdobramentos na filosofia de Walter Benjamin, para se cogitar sua aplicação ao contexto nacional. A partir daí, esboçam-se alguns pontos de contato entre as expressões poéticas brasileiras modernas e contemporâneas, para ilustrar os trajetos que nossos autores têm trilhado na esteira da tradição recente, através de três poetas paulistas de filiações institucionais e gêneros distintos – a saber, Amador Ribeiro Neto, Marcos Siscar e Vera Lúcia de Oliveira. A partir da produção dos autores escolhidos, interessa destacar a utilização de temas, formas e conteúdos já conhecidos do público leitor, para que cheguemos a uma adjetivação mais precisa das linhas de força que animam a poesia publicada na atualidade"

 

(...) Poeta de uma compleição similar é Vera Lúcia de Oliveira, seja pela limitação dos versos livres com o poema em prosa, seja pela autenticidade de sua dicção que se destaca de tudo,  sem se afastar e sem se submeter obedientemente à tradição ocidental. A condição bilíngue é um traço que chama a atenção de início na sua produção, já que poucos são os poetas brasileiros contemporâneos que escreveram noutras línguas e, menos ainda, encontraram no exílio a condição propícia para sua expressão, o que parece acontecer com a autora. Digo isso porque, apesar de já ter sido premiada em italiano e em português, ela parece dar uma importância peculiar à sua poesia em língua portuguesa, como se fosse uma necessidade sua ou tivesse alguma coisa que só pudesse ser dita em português, para o público brasileiro. Por uma razão ou por outra, nosso idioma se coloca para ela como uma espécie de porão, aonde ela vai

buscar coisas fora de uso que, contraditoriamente, adquiram utilidade na sua expressão,  quando ela acerta em cheio na poesia.

Observando seus poemas, teríamos tudo para dizer que se trata de um lugar-comum do que venha a ser poesia e, sem fugir disso, aí reside a sua força, porque faz com que sua dicção seja, de fato, poética, sem buscar um parâmetro fora de si mesma, restando somente o que sua palavra põe. Assim, ela nos consola com uma palavra nova, como se esperássemos da poesia algo que nos tirasse do cotidiano. Ela nos socorre da desolação da linguagem, como se estivéssemos todos a esperar por uma nova função para a poesia. Com isso, ela se martiriza por cada um de nós, na medida em que nos oferece sua palavra, que se solda ao que os seus olhos conseguem ver, irradiando novas possibilidades de expressão que é fruto de uma dura ascese, por assim dizer, de um quase sacrifício mergulhado no vazio de que se compõe seu ato antes de cristalizar em linguagem. E são sempre palavras doridas as que saltam dos seus versos para a nossa mente. Palavras que ficam ecoando na nossa memória e na nossa imaginação.

Quem tiver a oportunidade de ouvir a voz da autora, recitando os seus versos, vai perceber que algo no mundo está prestes a se romper, a se partir, a se quebrar... E o mais incrível é que tudo continua como dantes. Esta é a grande aberração, este é o grande escândalo que Vera Lúcia de Oliveira nos dá a ver com seus olhos e todos os demais sentidos, cumprindo sua função de poeta, sacrificando-se por uma coletividade que, por ora, encarnamos. (...)

 

(...) Tendo sido publicado no livro A chuva nos ruídos (2004), o poema "a vida mesma cura" faz parte de uma coletânea cujo prefácio foi assinado por Carlos Nejar, assim como o volume No coração da boca (2006) tem o prefácio de Ledo Ivo – dois membros da Academia Brasileira de Letras. Há aí, portanto, um universo em expansão que demanda apreciação crítica também no âmbito da universidade brasileira, uma vez que seu volume Entre as junturas dos ossos (2006) foi  premiado pelo governo brasileiro e figura na coleção "Literatura para todos", que é distribuída nas nossas escolas. O título deste livro é bem sugestivo, na medida em que o líquido sinovial – que fica entre os ossos –, tem a função de movimentar as articulações, permitindo o seu movimento suave e indolor. Mas, aproveitando a metáfora, não creio que seja esta a única substância que anima a poesia de Vera Lúcia de Oliveira, já que o líquido cefalorraquidiano – ou simplesmente líquor –, que é o líquido que liga o cérebro à medula, também parece comparecer à sua poesia. Na sua poesia há, portanto, algo que agiliza os nossos movimentos, conferindo- lhes naturalidade, mas há também algo que nos faz pensar e que robustece nossas estruturas, quer nos apresentemos como indivíduos singulares ou como leitores de poesia integrados a uma tradição. (...)

(Everton Barbosa Correia, "elyra" revistada rede international lyracompoetics n.6 2015,
http://www.elyra.org/index.php/elyra/article/view/97)

Texto completo:

  http://www.elyra.org/index.php/elyra/article/view/97/95


 

Testo:

Laura Toppan

 

Per una poetica del dolore:
i versi di Vera Lúcia de Oliveira
e Francisca Paz Rojas

 

P.R.I.S.M.I. n.15

P.R.I.S.M.I. n.15 - Revue d'études italiennes - «DIRE IL DOLORE» 
Scrittori e poeti italiani interpretati dall'esperienza umana: itinerari tra XVI e XXI secolo
Textes réunis et présentés par Nikica Mihalijevic et Laura Toppan
Editions Chemins de tr@verse, Paris, décembre 2016, pp.
278-305
"Per una poetica del dolore: i versi di Vera Lúcia de Oliveira e Francisca Paz Rojas"

Testo:

Roberto Brozzetti

"São Paulo na trilha dissonante da
 poesia de Vera Lúcia de Oliveira"

"São Paulo na trilha dissonante da poesia de Vera Lúcia de Oliveira"
Dossier: TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIA NA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
Passages de Paris, APEB.fr, numero 13-2016

http://www.apebfr.org/passagesdeparis/editione2016-vol2/articles.html

Ambra Damiani

La letteratura della migrazione in Italia

2016

https://slideplayer.it/slide/6016110/

Margherita Orsino

"Tutti i rumori e le voci del mondo,
 Vera Lúcia de Oliveira, il denso dellapoesia"

Nel 2016, mentre in Brasile il governo progressista attraversava una crisi politica senza precedenti, le critiche imperversavano in Europa, tacciando il paese dell’appellativo dispregiativo di “repubblica di bananas”. Vera Lúcia de Oliveira, poetessa bilingue italobrasiliana, non mancò di reagire immediatamente pubblicando un testo alquanto significativo in quel contesto ma che ancora oggi esprime chiaramente il legame fra impegno e poesia, fra vita e poetica: 

 

[...] Per i poveri, per la grande maggioranza della popolazione, il Brasile era la patria amata, ingrata ma amata. E che rabbia avevo a volte per questo paese che è il mio, in cui le persone migliori erano quasi sempre quelle del mondo dal basso, che non avevano il potere e non erano rispettate.  Ebbene, sognai di cambiare questo, volli essere scrittrice per parlare di quel mondo dal basso e nelle mie poesie il mondo è visto da quell’angolo, da quella prospettiva.

 

Così la poeta mostra senza grandiloquenza o enfasi, ma con sincera passione, quali sono le radici del suo impegno, suggerendoci una chiave di lettura. Vorrei presentare la poesia di Vera Lúcia de Oliveira dal punto di vista della poetica “dal basso”, non nel senso che sarebbe artificiale e falso di registro popolaresco, ma nel senso di una fenomenologia della visione orizzontale, terrestre, umana, a altezza di sguardo, di dettaglio infimo, nella strada o nella casa, nei luoghi prediletti della poesia di questa voce unica. 

 

Alle soglie della poesia 

 

Un primo aspetto singolare della poesia di Vera Lúcia de Oliveira è il suo bilinguismo. Nata in Brasile poi stabilitasi in Italia, ha pubblicato saggi e poesia nelle due lingue. Ma con una particolarità significativa: un’alternanza di libri integralmente concepiti e scritti interamente in una sola delle due lingue. 

Il primo libro brasiliano è del 1983 e il primo in italiano è del 1989. A partire da quelle date, la sua scrittura segue un ritmo binario di alternanza piuttosto equilibrata. Questa produzione in parallelo si è imposta come un fatto contestuale - la vita nei due paesi, la pratica delle due lingue, i ricordi e le esperienze ad esse legati - ma anche come un modo di scrittura, poiché tutti gli autori migranti vivono naturalmente fra due sfere e pensano e scrivono in due o più lingue. La poeta rivendica il suo bilinguismo come una ricchezza e cita l’esempio degli altri poeti bilingue da Fernando Pessoa a Murilo Mendes. Ci spiega lei stessa come non solo una poesia, ma tutto il libro venga concepito integralmente in una stessa lingua:

 

ll fatto è che convivo con le due lingue nella mia anima e le poesie così nascono da questa doppia convivenza. Ho un processo di elaborazione lento e interiore e quando inizio un testo, alla fine scopro che ho dentro il libro intero, non solo una poesia singola. E questo processo interiore si realizza in una delle due lingue senza che io, apparentemente, abbia voce in capitolo.

 

Quest’opera comprende attualmente una quindicina di libri divisi in modo equilibrato fra le due lingue, oltre alle antologie plurilingue ed edizioni in traduzione e in riviste. Tale divisione non deve però indurre in errore: il cuore di quella poetica è uno. Le sue radici, benché attaccate a luoghi e lingue diverse, nutrono un’unica poesia, fatta di momenti e dialoghi interni, movimenti ed echi, una linea che possiamo seguire con le sue anse, sbalzi ma capace anche di scorrere, come direbbe Sandro Penna, «entro il dolce rumore della vita». Ma proviamo a indugiare già sulla soglia della poesia, sui titoli di quest’opera e vedremo che i libri sono altrettante tappe di un percorso poetico:

A porta range no fim do corredor

Cose scavate

Geografie d'Ombra (Venezia, 1989)

Pedaços

Pezzi

Tempo de doer

Tempo di soffrire

La guarigione

Uccelli convulsi (Lecce, 2000)

Nel cuore della parola (Bari, 2003)

No coração da boca (São Paulo, 2006)

A chuva nos ruídos - Antologia

Verrà l'anno

Entre as junturas dos ossos  (Brasília, 2006)

Il denso delle cose - Antologia  (Lecce, 2007)

Partenze - Antologia (Nantes, 2009)

Radici, innesti, diramazioni - Antologia,
con Gladys Basagoitia Dazza (Roma, 2010)

A poesia é um estado de transe

La carne quando è sola

Vida de boneca - poemas para crianças

O músculo amargo do mundo (São Paulo, 2014)

Vou andando sem rumor – Antologia (Santa Cruz do Sul, 2015)

Ditelo a mia madre (Rimini 2017)

 

Questi titoli scandiscono il tempo di una poesia che aderisce totalmente alla vita, alle umane peripezie, fra dolori e mutamenti interni, rinascite, percorsi. Tre elementi sembrano emergere: la poesia come “carne” (carne, ossa, muscolo, cuore, guarigione); la percezione dell’oggetto minimo (porta, cose scavate, pezzi, denso delle cose, boneca ecc.) ovvero la poetica delle “cose”; e la poesia come voce, come “dar voce” al silenzio (No coração da boca, Vou andando sem rumor, Ditelo a mia madre). ( ..... )

 (Margherita Orsino, 2017, pubblicato in HAL il 30 gennaio 2019,  https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-01999015)

Testo completo:

 hal.archives-ouvertes.fr/hal-01999015/document

Raffaele Taddeo

 

"Letteratura nascente"

III edizione, 2019

 

Vera Lúcia de Oliveira (Brasile)

- Verrà l'anno, Fara, 2005

- la carne quando è sola, SEF, 2011

 

La silloge poetica Verrà l'anno presenta a prima vista come tema centrale quello della casa, così come rileva nella postfazione Mia Lecomte, che individua le varie sfaccettature poetiche e simboliche veicolate dalla casa. Ritengo che all'origine non ci sia solo la casa come nucleo poetico, ma che la genesi ispirativa di questa silloge sia una dimensione spaziale data da un dentro e un fuori. Un dentro protettivo, di cui la casa è una delle sfaccettature e quella più immediatamente percepibile, ma che sottende altri o altro "dentro", mentre il fuori è quello del pericolo, del timore, della perdita della sicurezza anche se può essere sfavillante per i colori dei fuochi artificiali. Sembrerebbe che tutta la poesia giochi intorno alla capacità protettiva dell'utero materno e alla sua dimensione di sicurezza, mentre il fuori dall'utero è altamente pericoloso e non lascia tranquillità.

 [...]

 a poesia presente in la carne quando è sola è di una forza che colpisce, che ti lascia stordito per la violenza e verità con cui si propone. Non fa sconti di alcun tipo, non dà tregua, non ti lusinga, ti tiene sospeso su un filo e dopo tutto capisci che ti rimane solo la poesia e che unica consolazione è quella di rileggere e risentire dentro i versi l'eterna verità che solo la poesia può darti. Si tratta di brevi illuminazioni, quasi epigrammi intensissimi che condensano però una saggezza e sapienza che viene da lontano, da riflessioni costanti e continue.

[...]

Testo completo:

(Letteratura nascente, III edizione 2019, Raffaele Taddeo

www.academia.edu/39790997/Letteratura_nascente_terza_edizione)

Flaviano Pisanelli e Laura Toppan

"Confini di-versi"

Istituto Italiano di Cultura di Strasburgo

Université PaulValéry Montpellier 3

Université de Lorraine Nancy

Firenze University Press, 2019

 

Vera Lúcia de Oliveira 

[...]

La lettura di grandi scrittori brasiliani, come Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, e di scrittori portoghesi, soprattutto di Fernando Pessoa che crea intorno a lui una moltitudine di identità, ha fatto capire a de Oliveira che esisteva un modo di far incontrare la prosa con la poesia. All’interno di questo percorso di formazione, la poetessa brasiliana si è messa alla ricerca di una sorta di trait d’union tra prosa e poesia, che le ha permesso di trovare un suo spazio di espressione personale.

[...]

Tra le sue figure più importanti dal punto di vista poetico Giorgio Caproni, che può essere considerato come un nume tutelare, Giuseppe Ungaretti, per leggere le cui poesie all'università ha scelto l'italiano al posto dell'inglese, e Sandro Penna, poeta degli spazi marginali.

[...]

Il discorso diretto atteso dal lettore non esiste poiché il punto di vista dell’altro si è completamente integrato all’interno della voce della poetessa. L’incontro è già avvenuto: non si tratta mai di una fusione, di una sovrapposizione o di un’adesione spontanea a ciò che l’altro vede, prova o dice, ma di una specie di assorbimento che permette a de Oliveira di giungere direttamente ‘nel cuore della parola’, che poi è il titolo della raccolta che ospita il testo poetico citato. In questo processo così personale non c’è solamente la ricerca di una forma espressiva o di un contenuto, ma soprattutto la ricerca di un possibile contatto tra l’esigenza di raccontare le storie altrui, di conoscere la realtà esterna e di cogliere la possibilità di trasformarla in un canto universale attraverso la forza e l’ingenuità della parola poetica. Questa circolazione tra l’altro e l’io, tra il dedans e il dehors, non fa che produrre e rinforzare il legame tra prosa e poesia, tra la dimensione del discorso e quella del canto.

[...]

Luciana Stegagno Picchio, nella sua Prefazione alla raccolta Geografie d’ombra sostiene che il bilinguismo, da una parte favorisce una visione cosmica e globale della realtà che verrebbe espressa attraverso uno spettro più ampio di sonorità e di sfumature, dall’altra esso implica sempre una sorta di mutilazione che deri averebbe dalla scelta di una delle due lingue o dal rapporto, talvolta conflittuale, che le lingue instaurano tra di loro. Lo scrittore bilingue avrebbe quindi due cuori incapaci di battere sempre all’unisono. Ogni lingua produce il suo senso e i suoi ‘sovrasensi’ che sono in relazione con il peso specifico di una parola, di un’espressione, di un rapporto particolare tra il suono e il senso.

[...]

Vera Lúcia de Oliviera pone al centro della sua introspezione un’analisi lucida che si esteriorizza attraverso una lingua limpida, diretta, talvolta affilata, in cui non c’è mai spazio per la menzogna. Quest’onestà, che sottintende un forte impegno etico nei confronti di sé e dell’Altro, può persino arrivare alla constatazione dello smacco, anche solo provvisorio, della parola. In questo caso il silenzio diventa il solo mezzo per esprimersi:

 

Il silenzio di questa notte / rode di solitudine / ogni poesia // non comporrò nessun verso solenne / non comporrò.

[...]

Questo linguaggio essenziale, scarno, di tanto in tanto crudo, crea un discorso poetico centrato sul dolore declinato in tutte le sue forme possibili. Il dolore sembra investire tutto il cosmo: prima di tutto gli uomini - che sono spesso rappresentati come degli esseri molto crudeli -, poi il mondo animale e vegetale.

[...]

La poetessa ha scelto di stabilirsi in Umbria, non lontano da Assisi, luogo intimamente legato alla mistica medievale e alla figura di San Francesco. In questa città l’autrice si nutre dell’iconografia di Giotto, un artista che ha saputo penetrare e rappresentare magistralmente l’intensità del dolore che si ritrova in molti personaggi delle sue opere pittoriche. Il lettore è messo quasi nella condizione di vedere il dolore, di toccarlo, di seguirne il percorso, l’andamento subdolo e minaccioso. Questa sensazione attacca le varie parti del corpo e si compiace della distruzione che provoca. Il dolore è quasi personificato e la forza della versificazione crea una sorta di ‘biologia’ delle parole. De Oliveira, rendendo fisiche le parole, costruisce una vera e propria ‘biografia’ del dolore.

[...]

I sentimenti spesso contraddittori non sono mai ostentati né esibiti, al contrario, essi sono appena mostrati con una discrezione e un pudore estremi.

[...]

L'opera di Vera Lúcia si fonda nel suo complesso su una poetica che intende penetrare il muro ermetico della realtà. Nel tentativo estremo di rendere al mondo le sensazioni dello stupore e della meraviglia, che la ragione gli ha sottratto, possiamo considerare la scrittura poetica - per parafrasare de Oliveira - come una passeggiata sui margini, come un tentativo di dire e di raccontare i limiti, la finitezza, l’insieme delle fragilità che la vita offre e si riprende. Sollecitata dalla poesia di Giuseppe Ungaretti - un poeta fra le lingue -, la poetessa propone, sin dai suoi esordi in lingua italiana, una parola secca e sempre pronta a svelare il dolore e la sofferenza che l’epoca contemporanea tende a banalizzare, ignorare, rimuovere.

Nella sobrietà della sua cifra stilistica e attraverso una poetica concentrata e densa che permettono alla sua parola di affiancarsi al silenzio, de Oliveira riesce a far parlare il vuoto della nostra epoca, di fronte al quale la poetessa non teme di esporre il suo corpo e il suo pensiero, la sua storia e la sua memoria. Ne scaturisce una voce stratificata, da discorsi di uomini e donne, che sorge improvvisamente dalla sua memoria come dei ‘monumenti’ capaci di esprimere il dolore di una vita vissuta a volte per abitudine, lontana dalla morte, dall’attesa, dal sentimento dello stupore, lontana da una solitudine che fa prendere coscienza di esistere, di vivere, di appartenersi nella frattura, in un corpo che resta solo e spaccato:

 

dalla finestra sentiva il rumore del vento / la vita nel ventre pulsava / i rami sul vetro come unghie / appuntite laceravano la luce / convocavano Dio per vedere / la carne quando è sola.

 

Come in una sorta di canzoniere d’amore rovesciato e attraverso un gioco di polifonie, sinestesie e ossimori, de Olivera riesce a far vedere, toccare, sentire l'imperfezione del  dolore collettivo che tuttavia tende a una perfezione sempre desiderata ma mai raggiunta in modo definitivo. Esponendo il corpo e la materia ad ogni tipo di mutilazione e di violenza, e ad una parola appuntita e pronta a ferire, la poesia di de Oliveira nasconde e rivela la tensione verso un misticismo umano che si rende visibile solo nell’opacità del sogno; un sogno che, come sosteneva Sandro Penna, risiede nel mondo perché è più reale del reale.

Testo completo:

  (Confini di-versi, Flavio Pisanelli e Laura Toppan, Firenze University Press 2019

books.fupress.com/catalogue/confini-di-versi/3940)

Inizio pagina corrente          Poesia        Pagina iniziale

(by Claudio Maccherani )