Poesia & Poesia
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Vera Lúcia de Oliveira (Maccherani)
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"Esses dias partidas" - Vera Lúcia de Oliveira, 2022

Esses dias partidos

 

Vera Lúcia de Oliveira (Maccherani)
©
Vera Lúcia de Oliveira

 

Editora Patuá, São Paulo, 2022

ISBN: 978-63-5864-348-7, 16x22 cm,336 pag, 40R$
(foto di copertina di Vera Lúcia de Oliveira)

 

O tempo denso (inedito, 2021)
Antologia poética (2004-2016)

Prefácio 
"Planos de voo, pés no chão", Carlos Machado

Postfácio 
"Uma poetica da observação e dos sentidos", Ronaldo Cagiano

   Selezione di poesie da "O tempo denso":
é um tempo parado / há tempo sem dentro
os pelos de Van Gogh / esse barco bate
á casas que se mudam / todos os gatos tristes

Per l'acquisto del libro:  Editora Patuà,
Rua Luis Murat 40, 05436-050 São Paulo - SP - Brasil

 tel: +55 11 96548-0190

 email: editorapatua@gmail.com

 Internet: https://www.editorapatua.com.br/

é um tempo parado
sem ponteiro
o pé ficou no chão
meio a meio
entre o passo 
seguinte
e o do meio

há tempo sem dentro
já vem lacerado no invólucro
a água já penetrou no silêncio
do que nem foi vivido
nele sempre há um momento
em que alguém se enfurnou
e desistiu

os pelos de Van Gogh
estão grudados no quadro
as veias são esses fios longos
que de tela em tela
contornam o quarto
do hospital de Saint-Rémy


pintados

esse barco bate
nas paredes, bate nos móveis
cresceu demais para fugir
água logo subirá até nós
Noé se foi com os animais
as pombas perderam-se
nas praças sem ninguém
e nós navegamos dentro
enquanto não formos
submersos 

há casas que se mudam
fazem as malas e somem
deixam panos quarando fora
para que não se pense que partiram
deixam o tapete na porta

não partem aos poucos
levando uma parte por vez
vão-se de abrupto
quando se abre a porta
e já não há mais ninguém

todos os gatos tristes
e os cães e os elefantes
que perderam as crias
e os leões feridos por caçadores
e os répteis queimados vivos nos bosques
e os passarinhos sem guarida
vieram chorar na minha porta
nessa noite que não dorme
nessa prece esquecida na infância
nesse abraço de minha mãe que já se foi
nesses cômodos escuros onde me perco
nesses versos onde abarcar os que
não têm onde pendurar a dor
como eu penduro esse penhoar
atrás porta tentando dormir

Antologia poética

PÁSSAROS CONVULSOS, 2004
ENTRE AS JUNTURAS DOS OSSOS, 2006
NO CORAÇÃO DA BOCA
, 2006
A POESIA É UM ESTADO DE TRANSE, 20
10
O MÚSCULO AMARGO DO MUNDO, 2014
MINHA LÍNGUA ROÇA O MUNDO, 2016

Prefácio
"Planos de voo, pés no chao"
Carlos Machado

 

Conheci Vera Lúcia de Oliveira no início dos anos 2000 durante uma leitura do poeta Donizete Galvão, no Museu da América Latina, em São Paulo. Radicada na Itália, a poeta e ensaísta paulista encontrava-se em férias no Brasil, visitando a família e aproveitando para rever amigos e fazer contatos literários e acadêmicos. Depois desse primeiro encontro, passei a ler a poesia de Vera Lúcia e, assim, tenho tido a oportunidade de acompanhar seu trabalho poético ao longo de quase duas décadas.

Clássica e contemporânea, assim é a grande poesia de Vera Lúcia de Oliveira. (...)

Quem se debruça sobre a obra poética de Vera Lúcia de Oliveira percebe, sem muito esforço, que sua lírica se desenvolve a partir de criaturas reais, personagens brasileiras, em geral pessoas humildes, com suas lutas, sofrimentos e pequenas alegrias. (...)

A dicção de Vera Lúcia de Oliveira é marcadamente pessoal. Não há, entre os poetas brasileiros já incluídos no cânone, nenhum nome que possa ter exercido alguma influência detectável nos versos dessa paulista-italiana. Nos retratos de figuras humanas que frequentam seus versos já cheguei a enxergar certo parentesco com alguns poemas de Manuel Bandeira. Mas essa proximidade estaria somente nos temas (pessoas do povo), não no estilo de escrita.


Via Romana, Perugia, 2020 (by Vera Lúcia de Oliveira)

De fato, há uma multidão de vozes nos poemas de Vera Lúcia de Oliveira. São crianças, homens e mulheres que expõem angústias indizíveis, temores inexplicáveis, e falam ao rés do chão, esse chão cinzento da pobreza e do desamparo. (...)

Em suma, ao abrir o volume da presente antologia e entrar em contato com essa comovente população que habita a poesia de Vera Lúcia de Oliveira - gente destituída de recursos materiais, mas rica de sonhos, planos de voo e humanidade -, o leitor, sem o mínimo espaço para dúvidas, terá a chance de envolver-se com o que hoje se produz de melhor na poesia brasileira. 

Carlos Machado, 2022

Postfácio
"Toda vida tem custo"
Ronaldo Cagiano

 


Viti autunnali, Montefalco, 2021 (by Vera Lúcia de Oliveira)

Entre o que vive e o que se escreve, a linguagem é o território por excelência por meio do qual o fluxo estético de Vera Lúcia de Oliveira dá conta de seu olhar imersivo e da deambulação reflexiva de uma aguda percepção das coisas, do tempo e das criaturas –  na dimensão  essencial do universal e do humano – cenários tão presentes numa obra que dialoga com aquele mesmo sentimento drummondiano do mundo.

Esses dias partidos colige livros anteriores e uma safra de inéditos, mapeando uma vasta produção que cobre um período criativo dos mais férteis da trajetória da autora que, além da arte poética, vem se dedicando há mais de três décadas à vida universitária em território italiano, ministrando literatura brasileira na Universidade de Perugia, estendendo pontes e promovendo intercâmbios multiculturais.

Como se enuncia a partir do próprio título da coletânea, entre esses dias partidos emerge o tempo denso de uma nova cartografia de inquietações de uma poeta intimamente sintonizada com os dilemas e as tensões da contemporaneidade. Entre o lírico e o social, o afetivo e o metafísico, a invenção e a memória, os flagrantes do quotidiano e o flerte com o onírico e o psicológico, a poesia de Vera Lúcia percorre os escaninhos da realidade individual e coletiva e confronta-se com questões existenciais e íntimas, geografias domésticas (a infância, a família, os objetos, os pequenos dramas) e territórios públicos (a cidade e seus personagens), que são o leitmotiv de sua preocupação artística, pois o que escreve vai onde está a vida. (...)

Com essa edição que chega em boa hora e panoramiza o percurso de Vera Lúcia de Oliveira, a editora In/Finita homenageia o leitor português com a poesia de uma das vozes mais consistentes da poesia não apenas do Brasil, mas do mundo lusófono. 

Ronaldo Cagiano, 2022

Recensioni: Adelto Gonçalves, "A poesia como devoção aos deseredados da terra", Jornal Opção, Goiás, 19/02/2023; Ozias Filho, "Liberando quem eu vejo quando leio Vera Lúcia de Oliveira", ENSAIO FOTOGRAFICO, Rascunho, 01/03/2023.

Recensioni nel sito >>

Lançamentos:

Casa Guilherme de Almeida - Pacembu, São Paulo, 25/08/2022

Casa Guilherme de Almeida

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Patuscada-Livraria, bar & café - Rua Luís Murat 40, São Paulo, 26/08/2022

Patuscada-Livraria

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"lambida pela pupilla da noite"

(Lampejo Filme, 12/2022 - da "o tempo denso")

"habitar a noite"

(Lampejo Filme, 02/2023 - da "o tempo denso")

"dentro da noite"

(Lampejo Filme, 01/2023 - da "o tempo denso")

"dentro la notte"

(Lampejo Filme, 01/2023 - da "o tempo denso")

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(by Claudio Maccherani )