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A
poesia dói dentro de mim
A poesia dói dentro
de mim
como quando meu pai podava a parreira
eu ia vendo caírem
as folhas
e ia vendo caírem
as folhas
e ninguém sabia
como os ramos derramavam sons
dolorosos |
La poesia si lacera
La poesia dentro di
me si lacera
come quando mio padre potava la vite
io vedevo cadere
le foglie
e vedevo cadere
le foglie
e nessuno sapeva
come i rami stillavano suoni
dolorosi |
O
silêncio desta noite
rói de solidão
toda poesia
não comporei
nenhum verso solene
não comporei |
Il silenzio di questa notte
rode di solitudine
ogni poesia
non comporrò nessun
verso solenne
non comporrò |
Tardes
de aula
Tardes de aula
em que se esvaía a pulsação
o universo
se incorporava
a um pedaço de giz
Ao professor
e sua fleuma de ensinar eu dava o óbvio
Às vezes se
passavam séculos até
sem que eu desse por mim |
Pomeriggi di scuola
Pomeriggi di scuola
in cui la pulsazione svaniva
l'universo
si incorporava
in un pezzetto di gesso
all'insegnante
e alla sua flemma io davo l'ovvio
a volte anche secoli
passavano
senza che io mi ritrovassi |
Canção
de ninar
O frio da manhã
dando ferrovias
na alma
vontade de
amanhecer
na china
cansaço das
horas cinzas
cansaço de amanhecer dentro dos teus olhos
cinzas
as estações...
o frio da manhã com úlceras
palpitações
viço derramado no silêncio ácido
ô jeito de ninar
triste! |
Ninna nanna
Il freddo del mattino
crea ferrovie
nell'anima
voglia di svegliarmi
in Cina
nausea delle ore
grigie
nausea di svegliarmi dentro i tuoi occhi
grigi
le stazioni...
il freddo del mattino con ulcere
palpitazioni
rigoglio riversato nel silenzio acido
maniera triste di
cullare! |
(Assis, SP, Brasil,1986 -
la casa di Vera)
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Prefácio
VERA LÚCIA DE
OLIVEIRA dá ao público, já na estréia, um livro denso, de linguagem moderna,
desataviada, dotada de um poder de expressão que parece provir da força com
que vive a autora o clima de sua poesia.
São poemas curtos, ern versos livres, quase sempre curtos também. Embora tenha
cursado Letras, a poetisa resiste a todo aparato na construção poemática,
feita com boa economia de meios, nenhuma retórica ("Não comporei nenhum
verso solene"...).
Não se confunda sua simplicidade com falta de recursos. Basta uma leitura para afastar a
possibilidade desse equívoco. Ao contrário, revela a autora profundo conhecimento do
fenômeno poético - por exemplo, ao confessar, alhures, o moto de sua poesia e assinalar
o fosso entre a fonte do poema e sua concretização em palavra: "... falar é uma
necessidade. Assim nasce minha poesia. Desse conflito entre silêncio e voz, palavra que
irrompe com força. Toda vez que escrevo, porém, destruo algo, sinto que destruo."
A poesia de Vera Lúcia gira em torno de coisas simples, e ela mesma no-lo
diz:
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Não transparência
Não metafísica
Coisas
Coisas arrulhando-se
em mim |
Seu fulcro é o cotidiano, com sua carga de rotina e tédio e a
constatação de que "triste é o mundo". Com seu carregamento de angustia:
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o tédio a liberdade a náusea
são dentes escovados
inúteis |
(Nada
do quê impede o eclodir, aqui e ali, de
sôfrega alegria: "o azul do céu/ Ah! a pena/ de ter somente dois olhos".)
Seu tema é, pois, o dia-a-dia, o terra-a-terra, a solidão, "a vida tão parecida com a morte" que, na verdade,
"não merece registro".
Mas o registro é feito, e aí está, vivo e válido, como um carinho triste estendido a
suicidas, prostitutas, bichos, coisas; versos que lembram Bandeira, que citam Drummond e,
não obstante, reservam para a feiçäo
geral traços próprios da autora.
Sinto-me honrado em saudar-Ihe estas primícias.
Anderson Braga Horta, 1983
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Recensioni:
Carlos Drummond de Andrade, 1982;
Moacyr Felix, 1982; Oswaldo França Junior, 1982; Cacaso
(Antônio Carlos Brito),
"Poesia feminina entre o
mosaico lírico e um mundo sem musas", Folha de São Paulo,
Brasile, 1/7/1984.
Recensioni
nel sito >>
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Poesia
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(by
Claudio Maccherani )
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